Nada melhor para nos sorrirmos da vida do que roubarem-nos o carro numa semana e, na semana seguinte, uma desesperada que passou com o sinal vermelho destruir-nos o outro carro que tínhamos para podermos trabalhar. Tudo isso logo depois da colega de escritório ter decidido trocar-nos por outro escritório mais prometedor, e seguido da morte, ontem, de uma prima ainda nova e boa pessoa.
Sorrimos da vida, sorrimos de nós próprios, e interrogamo-nos: haverá algo que valha a pena?
Dali-Metamorfose de Narciso
Para quem escrevo estes poemas, estes contos, estas reflexões de passagem? Para mim mesmo? Alguém encontrará aqui alguma alegria, que com o amor é a única coisa que é indispensável partilharmos?
E não será tudo isso uma uma pequena vaidade e uma ilusão, porque tudo isso está já noutro lugar?
Na verdade, na verdade só tentamos enganar a morte. Mas ela espreita-nos em todos os lugares. É a nossa própria sombra pronta para nos devorar.