Pouco falta para Saramago ser lançado à fogueira por ter afirmado uma verdade evidente: que a Bíblia é um "manual de maus costumes."
Esta afirmação é de uma verdade tão evidente, que só por ignorância, má fé ou ingenuidade se pode dizer o contrário.
Infelizmente, quase todos os que se dizem católicos, incluindo muitas luminárias que aparecem em público a dar palpites, nunca leram a Bíblia. Porque se a lessem sem preconceitos perceberiam que o Deus do Antigo Testamento não passa de um tiranete de uma tribo de beduínos.
É claro que, ingenuamente, ou por interesse, sempre poderão dizer os seguidores das religiões hebraico-cristãs que a Bíblia não pode ter uma leitura literal, que tem de ser lida como obscura,e até insondável, palavra de Deus que os pobres mortais não podem alcançar.
Curiosamente, são esses que entendem que as passagens da Bíblia mais agradáveis à sua consciência podem ser tomadas à letra, e que Cristo usou uma linguagem simples para ensinar os homens.
Mas vamos ao que lá está escrito para verifircarmos a razão de Saramago.
Desde logo, os direitos dos descendentes de Israel, isto é, de Jacob, isto é, toda a narrativa bíblica, assenta numa miserável fraude. Israel, industriado por sua mãe Rebeca, que o preferia ao outro filho Esaú, que, por sua vez, era o preferido do cego Isaac, seu pai, monta uma burla para enganar o pai, fazendo-se passar pelo irmão, cobrindo as mãos e o pescoço com uma pele de carneiro (pois o irmão era peludo) para obter do pai a benção a primogenitura e a benção que lhe davam o domínio sobre a família e o direito a dois terços da herança, que o pai destinara ao primogénito Esaú.
É sobre essa vigarice aprovada pelo Senhor que se constrói a casa de Israel e toda a narrativa bíblica.
Daí para a frente é um desenrolar de traições, de crimes e de burlas sobre as quais assentou o poder da casa de Israel, passando pela divisão em dois reinos, de Israel e de Judá, até ao fim da independência de ambos os reinos ( se é que alguma vez foram verdadeiramente independentes, e não foram sempre tributários de outros reinos, nomeadamente do Egipto).
Então aquele que é tido como exemplo de uma grande e bom rei, tão bom que dele descende Cristo, segundo os Evangelhos, é um exemplo de mau carácter a todos os títulos condenável. Afasta pela intriga os descendentes de Saúl, é pedófilo, assassino, injusto, entre um imenso rol de defeitos.
E, dizer-se que era um grande rei, é algo de ridículo. Israel, no seu período de maior expansão, nunca foi sequer do tamanho de metade de Portugal.
Mas basta citar duas passagens bíblicas para se perceber quanto o Deus dos Judeus é mau e cruel.
1ª Passagem: JOSUÉ, 6, 20-21:
" A CONQUISTA DE JERICÓ...as muralhas da cidade desabaram e os filhos de Israel subiram à cidade...
Tomaram a cidade e votaram-na ao anátema passando a fio de espada tudo o que nela encontraram: homens, mulheres, crianças, velhos, inclusivamente os bois, as ovelhas e os jumentos."
2ª passagem: DEUTERONÓMIO, 28, 15-27:
"Mas, se não escutares a voz do Senhor, teu Deus, se não praticares todos os Seus preceitos e as Suas leis, todas estas maldições virão sobre ti e serão tua partilha.Malditos serão o fruto das tuas entranhas, o fruto do teu solo, a prole dos teus touros e as crias das tuas ovelhas...
O Senhor enviar-te-á a peste...ferir-te-á com a consumpção, com a febre, com inflamações de toda a espécie...afligir-te-á com a úlcera do Egipto, com hemorróidas, com a sarna seca e húmida..."
Votar cidades ao anátema, para os Judeus era cumprir uma ordem divina.
As hemorróidas eram também um castigo divino.
É claro que se pode ler isto a uma luz insondável aos mortais.
Mas aqueles que não dispõem de qualquer sonda, aqueles que não vêem no túnel qualquer luz mas apenas hemorróidas, esses não poderão deixar de afirmar, se forem homens de pouca fé mas de bons princípios e bons costumes, que a Bíblia é um "manual de maus costumes".