blog filosófico, cultural e político
Segunda-feira, 29 de Agosto de 2005
CRUZEIRO SEIXAS
Sábado, 27 de Agosto de 2005
PEREGRINAÇÃO
No coração tinha uma pequena lua
que havia pousado
outrora sobre os bordões de água.
O seu alimento era
o trigo amadurecido
com uma velha canção.
Suas estradas o pó
onde não tinham sentido
justiça nem opróbrio.
Gostava de caminhar assim
de braço dado com um mendigo
cuja cabeça era um girassol
e os pés voavam para a eternidade.
HENRIQUE DÓRIA-Escadas de Incêndio
Quarta-feira, 24 de Agosto de 2005
FRATERNIDADE
A assassinato do irmão Roger, da comunidade Taizé, por uma fanática - ou uma louca, tanto faz- coloca-nos perante a necessidade de defendermos com cada vês mais veemência a liberdade e a fraternidade. O irmão Roger era uma homem bom, que morreu por isso mesmo. E a sua morte fez-nos lembrar a diiferença entre Cristo e S. Paulo, tal como escreveu ERNEST RENAN, em "PAULO, O 13º APÓSTOLO":
"Não é a EPÍSTOLA AOS ROMANOS o resumo do cristianismo, mas sim o SERMÃO DA MONTANHA. O verdadeiro cristianismo, que há-de durar eternamente, vem dos Evangelhos, não das Epístolas de Paulo. Os textos de Paulo foram um perigo e um obstáculo, a causa dos principais erros da teologia cristã; Paulo é o pai do subtil Agostinho, do árido Tomás de Aquino, do sombrio calvinista, do impertinente jansenista, da teologia irada que danifica e perverte. Jesus é o pai de todos os que procuram nos sonhos do ideal o descanso das suas almas. O que faz o cristianismo viver é o pouco que sabemos da palavra e da pessoa de Jesus: só o homem de ideal, o poeta divino, o grande artista desafia o tempo e as revoluções."
Terça-feira, 23 de Agosto de 2005
O AMOR
"Culpa-se o amor de vário e inconstante, sendo que as mais das vezes seria maior a sua culpa se fosse constante e firme: o amor só quando deixa de amar se emenda, só quando é vário se justifica, e só quando é inconstante se desculpa: quando começa, parece que não é erro o amor; porque mal se pode evitar aquele primeiro instante que nos atrai, aquela primeira luz que nos assombra, aquele primeiro agrado que nos engana: o nosso arbítrio, ou a nossa reflexão, vêm depois, como remédio que sempre supõe sucedido o mal."
MATIAS AIRES-Reflexões Sobre a Vaidade
Sexta-feira, 19 de Agosto de 2005
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que estejamos.
Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros
Onde quer que moremos. Tudo é alheio
Nem fala língua nossa.
Façamos de nós mesmos o retiro
Onde esconder-nos, tímidos do insulto
Do tumulto do mundo.
Que quer o amor mais que não ser dos outros?
Como um segredo dito nos mistérios,
Seja sacro por nosso.
RICARDO REIS-Odes
Segunda-feira, 8 de Agosto de 2005
PROCURO UM HOMEM
Diógenes de Sinope, filósofo cínico, passeava-se, em pleno dia, pelas ruas de Atenas com uma lâmpada acesa. Respondendo a quem o inquiria sobre tão estranho comportamento, dizia Diógenes: " Procuro um homem".
O gesto de Diógenes levanta três ( e não duas, como dizia Nietzsche, em HUMANO, DEMASIADO HUMANO) questões essenciais: primeiro Diógenes, depois a lâmpada e, finalmente, o homem.
Antes de procurar o homem, há que encontrar a lâmpada, e, antes de encontrar a lâmpada, há que encontrar Diógenes.
Porque, como dizia a pitonisa de Delfos, o conhecimento deve começar por si mesmo: se o homem não se conhece a si próprio, nunca encontrará a lâmpada que o ilumine na busca de outros homens.
Mas é a luz da sabedoria, simbolizada pela lâmpada, que permitirá a Diógenes encontrar o homem que ele procura no meio de tanta gente que passa pelas ruas de Atenas.
Encontrado o homem ficaria completo o triângulo, e, assim, Diógenes poderia dizer que o seu peregrinar sobre a terra não teria sido inútil.
Sábado, 6 de Agosto de 2005
DANTE GABRIEL ROSSETI-Paolo e Francesca
Sexta-feira, 5 de Agosto de 2005
CUESTIONES
Luego sabré quién soy, quién me tiene o qué tengo
en este desmembrarme al ocaso, el oído
apoyado en la almohada para escuchar la noche;
o en este despertar con la nuca ceñida.
Oh sola soledad, carencia de ese trozo
de tiempo intransferible tras demasiados años
y cuarenta, buscándome; tras de tan largas noches
-ahora lo sé- que fueran, en realidad, mi vida.
MARIA VICTORIA ATENCIA - Ex libris
Quarta-feira, 3 de Agosto de 2005
METRO: PARA GONDOMAR OU PARA A BOAVISTA?
Não se pode dizer que o Dr. Rui Rio não saiba defender bem os seus objectivos: defende-os tão bem que consegue pôr do seu lado aqueles que, pelo menos aparentemente, deveriam estar contra eles.
Falamos, obviamente, da instalação da rede de metropolitano na Avenida da Boavista, no Porto.
Parece-nos que Valentim Loureiro, Presidente da Câmara de Gondomar, e, aparentemente, defensor dos interesses do concelho, deveria estar contra a rede de Metro na Boavista.
As razões são óbvias: a instalação do Metro em Gondomar ou na Boavista é concorrencial. Isto é, caso se opte pela Boavista como projecto a levar a cabo de imediato, terá de esperar por melhores dias o Metro para Gondomar, porquanto os recursos financeiros do Estado são limitados, e, como é sabido, o Estado não se encontra em condições financeiras para levar a cabo, em simultâneo, os dois projectos.
Disso bem sabem Rui Rio e Valentim Loureiro, e este, ao aceitar a proposta de Rui Rio para a instalação do Metro na Avenida da Boavista no seu (eventual) próximo mandato, está a aceitar, implicitamente, que o Metro para Gondomar vai ter de esperar pelo menos mais quatro anos.
Valentim Loureiro já abdicou do Metro por Valbom com o argumento de que, se assim não fosse, não se saberia quando é que o Metro de Gondomar estaria em funcionamento.
Afinal, apesar de ter abdicado do Metro por Valbom, o problema continua a colocar-se: não se sabe quando é que Gondomar terá Metro em funcionamento.
Por várias vezes que foi garantido por Valentim Loureiro que, agora, era de vez: arrancava em 2003, arrancava em 2004, arrancava em 2005, tudo sempre apresentado com pompa e circunstância à comunicação social de ano em ano. Não estamos longe do final de 2005, e nem sequer o projecto do Metro para Gondomar estará pronto em definitivo. Não se sabe ainda qual será, ao certo, o seu trajecto. Não há terrenos expropriados. Assim, o mínimo dos mínimos para que o Metro de Gondomar avance ainda não existe. Isto apesar de Valentim Loureiro ser Presidente da Empresa do Metro do Porto e Presidente da Câmara Municipal de Gondomar.
Mas, agora, ao defender o projecto de Rui Rio de Metro para a Avenida da Boavista, Valentim Loureiro estará a aceitar o atraso da instalação por, pelo menos mais quatro anos, do Metro em Gondomar.
Para além de embarcar num projecto ruinoso para a área Metropolitana do Porto. O Metro da Boavista está projectado para custar 60 milhões de uros, sabendo nós que, no final, ficará, pelo menos, em 120 milhões. Desses 120 milhões, 10 por cento, isto é, 12 milhões, irão perder-se na corrupção-contas feitas por baixo. Tudo como é habitual nestas obras.
A alternativa ao Metro será o eléctrico rápido, que está projectado para custar 6 milhões de uros, praticamente com as valências do Metro. Ficando, a final, pelo dobro, isto é, 12 milhões de uros, o que será perdido na corrupção com o Metro bastaria para pagar a instalação do eléctrico rápido.
Parece que Valentim Loureiro, para aderir à proposta de Rui Rio, está convencido de que tem o concelho nas mãos faça ele o que fizer, mesmo que nada faça pelo concelho numa questão tão essencial para o seu desenvolvimento e bem estar como é a do Metro.