NA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Por quase todo o país, e ressalvando o caso de violação das regras do Estado Democrático praticada na Madeira por essa vergonha da democracia portuguesa que é Alberto João Jardim, as comemorações do 25 de Abril tiverem, este ano, uma adesão popular que há muito não se via.
No fundo, a generalidade dos cidadãos portugueses sente que uma grande parte das promessas do 25 de Abril não está a ser cumprida, e, pior do que isso, muitas das conquistas do 25 de Abril têm vindo a perder-se.
Quando olhamos para o país, perguntamos com apreensão:
Qual será o destino do Serviço Nacional de Saúde, tal como foi concebido por António Arnaut?
Qual será hoje, e no futuro, o significado da promessa de igualdade de oportunidades no acessos ao ensino?
O que significa hoje o direito ao trabalho?
O que significa hoje a expressão “justiça social” inscrita na Constituição e que todos os partidos dizem defender?
De todas estas perguntas fica-nos uma resposta:
Nunca como em
Por isso, apesar da sua banalidade, foram tão bem escutadas as palavras do Presidente da República sobre a necessidade de se diminuir esse fosso brutal que na sociedade portuguesa separa ricos de pobres.
Mas essas palavras implicavam, necessariamente, uma pergunta?
A quem atribuir a culpa do aumento das desigualdades nos últimos 25 anos? Será que não é legitimo culpar dessas desigualdades o partido que, nesses 25 anos, governou 18 anos Portugal, precisamente o partido do Presidente da República que foi, durante dez desses 18 anos, Primeiro -Ministro?
Ou será que o Professor Cavaco Silva pretende usar na Presidência da República a mesma táctica que tão bons frutos lhe rendeu no governo-ser oposição a si próprio?
NAS RUAS
Uma ausência notória nas comemorações do 25 de Abril foi a dos dirigentes socialistas. Isto sucedeu por todo o país e, particularmente, em Lisboa e no Porto.
Essa ausência não pode ter outro significado que este: os actuais dirigentes socialistas estão cada vez mais distantes do 25 de Abril que foi feito pelo povo, NAS RUAS, em particular por essa maioria da população portuguesa que é a esquerda nacional.
E se os governantes e deputados socialistas aplaudiram na Assembleia da República a saudação aos militares de Abril, porque não estão esses mesmos governantes e deputados a aplaudir na rua esses militares, cuja vitória só foi possível, porquanto o povo desceu à rua.
É lamentável que os governantes, deputados e principais dirigentes socialistas deixem as comemorações do 25 de Abril àqueles para os quais o principal valor de Abril, a liberdade, é um valor problemático: os comunistas.
É lamentável que esses governantes, deputados e principais responsáveis não compreendem que um partido sem memória é um partido que se perdeu a si próprio.
Mas percebe-se. Estamos em tempos de pragmatismo, de que Sócrates, admirador de Tony Blair, é o principal rosto. E, em tempos de pragmatismo, cada um olha pela sua vidinha!
Escrever um livro é entregarmo-nos aos outros, com o que isso tem de exaltante e devastador.
É exaltante porque nos permite dizer que existimos, dizer quem somos, partilharmo-nos, às
vezes de tal modo que leitores perspicazes descobrem em nós o que nem nós próprios
conseguimos descobrir.
Exaltante porque satisfaz o nosso desejo de sermos admirados.
Mas também devastador porque permite todas as devassas, todas as distorções, todas
as manipulações.
Devastador porque alimenta a nossa vaidade.
HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos
Fiz minha aliança
Com o sol e a gazela.
Foram testemunhas
A estrela a pedra e a criança.
Pensei: quem com a lua branca
A noite sela
Sabedoria e eternidade alcança.
HENRIQUE DÓRIA
Sou um poço cheio de labirintos, com um triângulo e um olho azul turquesa no fundo.
Um dia debrucei-me para encontrar pássaros dentro desse poço. Ia encontrando a morte.
No meio dos altos milhos, salvou-me uma velha senhora de rosto tingido de branco. Salvaram-
me o verde e o branco.
Porque tudo é misterioso por demais, desde então passei a acreditar que só as cores nos
salvam - os restos da luz que nos vai chegando, chegando, chegando...
HENRIQUE DÓRIA - Viagem Para Uma Nebulosa
Todos percebemos que este governo do engenheiro Sócrates está a americanizar a sociedade portuguesa.
O egoísmo desenfreado, o poder absoluto do dinheiro, o abandono à sua sorte dos pobres e dos que sofrem, a violência socialmente instituída, tudo isso são a características da sociedade americana que a administração Bush levou a um grau antes nunca visto.
Infelizmente, vemos Portugal e, de um modo geral, a Europa, caminhar para aí.
Cada vez mais as pessoas tratam de si próprias, seja a que preço for, mesmo que isso implique o espezinhar de quem está a seu lado.
A luta pela sobrevivência que está a afectar cada vez mais as classes médias, torna-se dramática. Assim como é dramático o aumento do número de pobres.
Os governos europeus parecem ignorar que não há uma sociedade socialmente sã sem uma classe média vasta e forte, sem a pobreza estar protegida por uma rede abaixo da qual o Estado tem a obrigação de impedir que caiam os económica e socialmente mais fracos.
Fala-se em Estado mínimo. Mas esses que falam em estado mínimo não aceitam poupar nas despesas de segurança e militares.
Despesas essas que se destinam a criar forças que combatam o crime que o próprio poder engendrou com o empobrecimento e marginalização de camadas cada vez mais vastas da sociedade, com o elevar do egoísmo e do salve-se quem puder a um bem social. E que permitam lucros cada vez maiores aos fabricantes e negociantes de armas.
Curiosamente, os defensores deste egoísmo social justificam cada vez mais as suas teses com a concorrência económica que a China e a Índia fazem ao ocidente.
Segundo as suas teses, essa concorrência obriga a que os direitos dos que trabalham por conta de outrem sejam cada vez mais diminuídos, quer através duma diminuição dos salários, quer através da precarização do mercado do trabalho. Isto é, a sociedade tem de se nivelar ( para os que estão sujeitos ao nivelamento) por baixo.
Era precisamente com base nesta ideia que os países ocidentais criticavam os países do chamado bloco comunista: os chamados países comunistas nivelavam a sociedade por baixo.
E tinham toda a razão nessa crítica, para além de criticarem, também com toda a razão, a ausência de liberdade.
Mas é isso que estão a praticar as sociedades ocidentais. O vigor das classes médias, que torna as sociedades saudáveis, está cada vez mais a diminuir. As sociedades ocidentais estão a nivelar-se cada vez mais por baixo quanto aos que não estão no topo. O topo não conta, porque esse está acima de qualquer nível de comparação.
O poder do dinheiro é cada vez maior, num cada vez menor número de pessoas. E cada vez menor, num cada vez maior número de pessoas.
É isso que estamos a ver na sociedade portuguesa. Apesar da dramática crise que está a afectar o país, os bancos cresceram os seus lucros de modo nunca antes visto.
Isto é, a finança está cada vez mais a crescer à custa da economia real. Sabemos que há bancos que têm comportamentos verdadeiramente delinquentes, induzindo as pessoas o consumirem muitas vezes o que não precisam, comprando produtos a preços muito superiores aos justos, através de um crédito bancário que, em caso de mora no pagamento, lhes exige juros que se aproximam dos 40%.
Se um particular emprestasse dinheiro a 10% cometeria o crime de usura. Como são os bancos a cobrarem esses 40%, eles estão apenas a cumprir a lei.
Não duvidamos que assim é. O que lamentamos é que essa lei não seja mudada, e que os bancos possam cobrar juros, sobretudo aos socialmente mais frágeis, a taxas tão elevadas.