blog filosófico, cultural e político
Sábado, 28 de Outubro de 2006
O CORPO E O ESPÍRITO

   Um dos principais confrontos da Filosofia actual deixou de ser o confronto entre materialismo e idealismo, para ser o confronto entre corpo e espírito.Sem dúvida que é esta, e  não aquela, a questão que mais deve interessar ao homem, porque é a que mais atinge o ser.

Responderam uns, seguindo Platão, que o essencial no homem é o espírito, porque é o espírito que dá humanidade ao homem.

Responderam outros, seguindo Aristóteles, para quem o seu corpo pouca importância tinha, que é o corpo, porque sem o corpo não existe o espírito e, quando acabar o corpo, acabará o espírito.

Platão, homem fascinado pelo seu corpo, não deixaria de pensar que quando o seu corpo degradado pela velhice se tornasse uma caricatura de si próprio, o espírito permaneceria no seu esplendor.

Inclino-me para o lado de Platão, por aquela razão, e por outra ainda mais importante: essas pequenas vaidades que são a arte e o saber, permitem-nos que o espírito permaneça para além da morte.

 

HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos



publicado por henrique doria às 14:20
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Domingo, 15 de Outubro de 2006
CAMINHAMOS SEMPRE NA ORLA-DO-ABISMO

1.

Caminhamos sempre na orla-do-abismo.

Sorte não olharmos

Para os nossos pés-

Quebrar-se-iam logo os anos-luz.

 

2.

Andamos ao vento à urze

Ao fogo-fátuo do passado

À neve da morte-

É o que nos coube em sorte

Neste delírio-alado.

 

3.

Até ao dia em que estrelas-de-chumbo

Descerão as escadas-do-céu

Para beber o mundo.

 

HENRIQUE DÓRIA-Mar de Bronze



publicado por henrique doria às 20:05
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Sábado, 7 de Outubro de 2006
HÁ VACAS NO MEU DESERTO

Há vacas no meu deserto.Vacas que de longe parecem cobras, vacas pintadas com um pincel, vacas que outrora foram águias e agora se elevam suavemente sobre as suas cores branca e negra com saudades do que eram antes da metamorfose.

É assim o meu deserto: um jardim de vacas.

Elas deambulam entre os cactos sobre areias escaldantes. Outras vagueiam solitárias e sem destino como cowboys tristes. A algumas eu toco, em segredo e à noite, os seus úberos incandescentes.

A estas, que eu tenho, perdi-me nelas para sempre, porque o destino de quem ama as vacas é perder-se no seu deserto verde.

 

HENRIQUE DÓRIA-Viagem Para Uma Nebulosa



publicado por henrique doria às 20:58
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Domingo, 1 de Outubro de 2006
SEGURANÇA SOCIAL- O DEBATE ESSENCIAL

 O debate sobre a Segurança Social, é, sem dúvida, um debate muito importante para o país. Trata-se de debater o futuro de todos nós, dos nossos filhos e nos nossos netos, em áreas tão essenciais como  a protecção dos cidadãos na saúde, na invalidez e na terceira idade.

A exigência cada vez de cada vez maior despesa com os cuidados de saúde dos cidadãos e o aumento da sua esperança de vida, dois bens muito importantes  de que continuamos a beneficiar, puseram TODOS os sistemas de Segurança Social em crise, e como uma das grandes questões nacionais a ser debatida desde Portugal aos EUA.

O sistema que, entre nós, o PSD e o CDS pretendem adoptar funciona razoavelmente em alguns países, e mesmo bem noutros, como a Suécia, mas, como relembrou o Primeiro Ministro, funcionou muito mal no Chile.

Haverá interesse em  que Portugal o adopte? Entendemos que não.

Desde logo pelos custos de transição do actual sistema para o outro. Estamos num período em que temos de fazer um grande esforço de contenção orçamental, e, todos reconhecem, incluindo o PSD e o CDS, que, de imediato, a adopção do sistema proposto pelos dois partidos iria aumentar a despesa pública. Desde já não deixa de estranhar-se que quem tanto se debate pelo equilíbrio orçamental aceite o aumento da despesa pública.

Dizem o PSD e o CDS que esse aumento é de cerca de 9 mil milhões de euros no período de transição. O governo do PS avança com números entre os 100 e os 135 mil milhões de euros nesse período.

Todos nós acreditaremos mais nos números do governo do PS, até porque estamos habituados a projecções de despesas feitas pelos governos, PS e PSD, mas mais deste último: por exemplo, o Centro Cultural de Belém e a Casa da Música do Porto custaram pelos menos dez vezes mais do que o inicialmente projectado.

Por outro lado, e ao contrário que afirma o PSD, e o PS e o Governo, estranhamente, se esqueceram de lembrar, é que o sistema de capitalização, embora de carácter não obrigatório, já existe entre nós: a cada um de nós é possível ( sempre o foi) ter um seguro de vida e um seguro de saúde numa qualquer seguradora. O que o sistema proposto pelo PSD e pelo CDS faz é tornar obrigatório esse seguro. Portanto, a argumentação destes partidos, baseia-se num pressuposto falso.

Mas todos nós temos a experiência desse tipo de seguros: prometem muito e dão pouco. Prometem complementos de reforma em que os juros do capital investido são de 9 ou10 por cento, mas quando chega o momento de pagar, pagam 3 ou 4 por cento.

E quanto à assistência na doença, todos sabemos como as seguradoras fogem a pagar as cirurgias e a assistência médica em geral.

Mais: se o sistema pode funcionar bem na Suécia, onde o Estado controla muito bem as seguradoras, e elas não fazem do cidadão quase o que querem, como entre nós, em Portugal esse controle é praticamente inexistente, pelo que o sistema proposto pelo PSD e pelo CDS deixaria os cidadãos à disposição do interesse das seguradoras.

Finalmente: os sistemas de capitalização pressupõem uma suspeita sobre a capacidade do Estado em gerir bem os seus recursos.

Mas sabemos agora que a eficiência do Estado em Portugal é superior à da iniciativa privada. E isto não é qualquer empedernido comunista que o diz, é o muito liberal Fórum de Davos.

Argumentam o PSD e o CDS: o actual sistema é insustentável. O que é verdade, mas por uma razão contrária aos seus propósitos: foi o actual sistema que permitiu que quer a protecção à saúde, quer o aumento da esperança de vida tivessem melhorado tanto entre nós.

Claro que a actual situação é insustentável. O Governo promete-nos uma reforma já em Janeiro.

Pensamos que essa reforma deveria ter como pontos essenciais:

Primeiro: uma limitação  do valor das pensões de reforma até ao montante máximo de 8 salários mínimos nacionais, assim se fazendo a distribuição da riqueza.

Segundo: uma ligeira contribuição suplementar das empresas que têm mais lucros com menos mão de obra, como, de certo modo, propõem o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda.

Terceiro: uma contenção de despesas com a burocracia do sistema.

Pensamos que, conjugando estas três componentes, sem grandes custos para os cidadãos e para as empresas, mas com benefício para a generalidade dos cidadãos, com maior justiça social, o sistema público de segurança social poderá ser mantido.



publicado por henrique doria às 23:40
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