blog filosófico, cultural e político
Domingo, 29 de Abril de 2007
TEIXEIRA DE PASCOAES-S. Jerónimo e a Trovoada
"As cousas são esculturas de sentimentos humanos."


publicado por henrique doria às 19:43
link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 25 de Abril de 2007
...


publicado por henrique doria às 21:46
link do post | comentar | favorito

LIBERTAÇÃO DE ABRIL
Sempre tivemos fé.
Mas as baleias contorciam-se
No abismo
Por um parto que parecia de séculos.
Com o tempo
O negro de fumo estava
Colado ao dia-
Difícil encontramos o estilete de aço
Que o viesse raspar.

Sinceramente-
Eu não acreditava que o berço humilde
Do meu primeiro filho
Que estava a querer passar da água
Para a luz
Já não tivesse grades.

E- no entanto- havia um grito
No círculo negro deste país perdido.

Às sete da manhã
A mulher interrompeu o meu frente a frente
Com o espelho
Para me anunciar-há uma música estranha
A circular pelas ruas.

Será que vamos nascer de novo
E o filho recém-nascido vai assistir
Ao nosso próprio parto?

De um salto
Coloquei no máximo o som da telefonia
E ouvi-passos-passos-passos- em unísssono.

E ouvi a voz daquele que nunca deveria ter morrido
Cantar - TERRA DA FRATERNIDAADE.

Acreditei então-
Chegado está o dia em que se abrem as águas

Porque iam em frente esses passos
E eram levados pelas asas
- Vermelhas da Liberdade

HENRIQUE DÓRIA- feito na manhã de 25 de Abril de 2004



publicado por henrique doria às 21:33
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Domingo, 22 de Abril de 2007
O HOMEM ETERNO

Era raríssimo vê-lo nos dias frios de Inverno. Sabia, no entanto - era a minha mulher quem o dizia, pois eu raramente por lá passava - que, logo de manhã, estava à entrada da igreja da Rua Guerra Junqueiro. Aí o frio era menor e, por isso, embora as esmolas fossem raras - ou porque já era conhecido das beatas e o mal disfarçado ar ainda jovem e provocador não lhes inspirava a piedade que gostavam de sentir para dar esmolas, ou porque a concorrência de outros pedintes mais convincentes da sua desgraça era grande - preferia pedir nesse local.
Mas, a partir de Março, quando o sol aquecia, todas as manhãs lá estava ele no cruzamento da Rua Belos Ares com a Avenida da Boavista, mesmo junto ao bingo e em frente do World Trade Center e do Sheraton Hotel.
Os automobilistas chegavam a estar dois minutos parados frente aos semáforos, à espera que caísse o sinal verde, e ele tinha tempo para os abordar. O facto de se encontrarem dentro de automóveis a serem olhados pelos que seguiam atrás na bicha tornava-os mais vulneráveis as investidas do pedinte.
Não tinha o ar desgraçado e infeliz dos outros pedintes. Aproximava-se com desenvoltura dos automóveis e, se bem que fosse calvo e tivesse barba grisalha, facilmente se notava que nele a calvície era exagerada porque penteava o cabelo para trás, e o olhar vivo não deixava que a barba fizesse acreditar que tinha mais de cinquenta anos. Quem olhasse, poderia dizer como a minha mulher, que o detestava: este indivíduo tem bom corpo e idade para trabalhar.
Mas não. Preferia pedir - mesmo que soubesse que o esmolar era para ele uma impostura que, até pelas roupas ainda em estado razoável que trazia, aqueles a quem estendia a mão não deixavam de perceber.
Assim, simultaneamente pedinte e trocista, lá se ia aproximando de um vidro que se fechava, de uma mão que se estendia com uma moeda de cem escudos ou de um rosto que fingia que não o via nem ouvia, caminhando sempre sobre o muro da sua condição de vagabundo, vigarista e pedinte.
Naquela manhã de Maio branca e quente, talvez ele se tivesse levantado particularmente feliz por estar vivo. E isso fazia com que se lançasse ao trabalho com maior ardor. Caminhava gingão e matreiro de carro para carro, estendia a mão, pedia "por favor" uma esmola - punha um ar sério se lha davam, sorria se nada recebia. Outras vezes pedia só um cigarro. Mas quando viu aquela mulher jovem e loura chegar no Volvo vermelho e aerodinâmico, com o braço apoiado na janela, aproximar-se devagar do último automóvel da bicha, até parar, ele saltou dois automóveis que o separavam dela e encostou-se, sorridente, estendendo o braço, enfiando-o dentro do Volvo, quase tocando no rosto da mulher que o olhou com raiva e desprezo e, aproveitando a oportunidade de o semáforo ter passado do vermelho para o verde, lhe cuspiu na mão, guinou subitamente da esquerda para a direita, acelerou e passou o semáforo a toda a velocidade.
E ele ficou ali, perdido no asfalto, a olhar para a mão, a tentar perceber o que se passara, a tentar ver o Volvo que já ia longe e talvez ele nunca mais voltasse a encontrar.
Sentiu então uma onda enorme e negra invadir as casas, as ruas, as praças, envolvê-lo num turbilhão e arrastá-lo ate ao fundo do mar.
Eu, que assisti a tudo isto no passeio, caminhei em direcção a um tapume que protegia os peões das obras de um banco próximo. No tapume estavam colados cartazes impressos em azul, negro e dourado, onde um olho solar lançava um triângulo de luz sobre duas serpentes entrelaçadas e, em grandes letras de ouro, sobre o fundo negro, estava escrito: O HOMEM ETERNO.

HENRIQUE DÓRIA-Viagem Para Uma Nebulosa



publicado por henrique doria às 23:48
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Domingo, 15 de Abril de 2007
A GRANDE QUESTÃO

A grande questão é saber porque há seres humanos que encaixam e outros que não encaixam no mundo. A questão da criação, aparentemente maior, a partir do momento em que a manifesta imperfeição do criado põe em causa o criador, deixa de ter sentido.

O mundo é a nossa única casa conhecida, e interessa saber COMO estamos aqui e não porque estamos aqui.

Particularmente depois do Gulag e de Auschwitz, interessa ao homem perguntar porque há mal em vez de bem, e não porque há algo em vez de nada.

HENRIQUE DÓRIA- Fragmentos



publicado por henrique doria às 13:56
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Sábado, 7 de Abril de 2007
CHEGOU DEMASIADO TARDE

Chegou demasiado tarde

À pedra-pura.

 

Quando chegou todas as partes

Do seu corpo

Encontrou-as

Demasiado fechadas

Pelos lenços-negros.

 

Não as encontrou.

 

Só às sombras escoando-se na ampulheta

E às noites no poço-do-lobo.

 

Vagueia agora nas ruas com a cabeça envolta

Num véu-cinza

A todos perguntando

-Porque existe algo em vez de nada?

 

HENRIQUE DÓRIA-Mar de Bronze

 

 



publicado por henrique doria às 12:44
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Segunda-feira, 2 de Abril de 2007
HAMLET


publicado por henrique doria às 09:48
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Junho 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

FRAGMENTO

VÊS-TE ELEITO ENTRE AS ES...

FRAGMENTO

VASOS

FRAGMENTO

O FUTURO DEVOROU O PASSAD...

FALO DAS COISAS SÉRIAS DA...

FRAGMENTO CONTRA CIORAN

UMA ESTRELA NA BOCA

FRAGMENTO

arquivos

Junho 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Maio 2018

Fevereiro 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Abril 2013

Março 2013

Dezembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

blogs SAPO
subscrever feeds