Escreveu o Timóteo, no timshel, um blog que saúdo:
Em fins da década de 80 eu era um neoliberal ferrenho. Também era ateu. Embora tivesse chegado ao ateísmo através do marxismo, após ter abandonado o marxismo, o ateísmo foi-se reforçando ainda mais, sobretudo pela leitura de autores neoliberais e "não-teleológicos", darwinistas, positivistas, comportamentalistas, objectivistas e afins. Nesses tempos pensava eu que a moral era um subproduto da vida do homem em comunidade e, consequentemente, destítuida de qualquer valor que não a utilidade
…
Eu devia tentar ganhar o máximo de dinheiro possível e viver de acordo com esses padrões. Finalmente, toda a realidade à minha volta se media pela utilidade para o meu conforto e para o meu bem-estar.
Em virtude de uma série de circunstâncias, foram aparecendo vários pauzinhos nesta engrenagem. Vou enumerar apenas alguns.
O primeiro. A reflexão sobre Deus, sobre a vida e a Palavra de Cristo, e a consequente aproximação à Igreja Católica.
Estou de acordo com a ideia de que o liberalismo económico conduz ao poder dos mais fortes, ao egoísmo e estupidez semelhantes aos dos ricaços romanos que comiam como bestas, e vomitavam depois o que comiam para voltarem a comer como bestas.
Mas entendo que o desejar a felicidade do Homem ou, tão só, uma humanidade decente é incompatível com a crença em Deus e, muito mais, com a Igreja Católica.
Quanto a Deus:
Se Deus existisse não permitiria que os homens, seus filhos, sofressem como sofrem. Trata-se de uma questão de decência. Então eles não pediram para nascer e ainda são condenados pelo pai a sofrer?
Como disse Afonso X, o Sábio, avô do nosso rei D. Dinis, qualquer homem decente, se tivesse os poderes que são atribuídos a Deus, faria um mundo melhor.
Quanto à Igreja Católica:
Maior incoerência ainda.
A doutrina católica funda a sua doutrina no pecado e na culpa. Ora qualquer mau Código Penal afirma aquilo que é moralmente inquestionável: só se pode ser culpado das suas próprias culpas, e não das dos outros.
Isto é, qualquer mau Código Penal é mais decente que o essencial da doutrina católica.
Depois: basta conhecer um pouco de história para se perceber que a maior parte dos papas não acreditava em Deus.
Então esse dogma de o papa ser escolhido pelo Espírito Santo daria para rir se não fosse uma piada de mau gosto. Os papas grandes criminosos da História, Inocêncio III, Clemente V, Alexandre VI … e a maior partes dos papas, criminosos maiores ou menores, escolhidos pelo Espírito Santo? E quando havia 2 ou 3 papas, como no caso do Grande Cisma do Ocidente, todos foram escolhidos pelo Espírito Santo?
Como é possível a uma sã consciência ser partidária da instituição que, ao longo da sua história, mais crimes perpetrou contra a humanidade? Só por enganoPÚBLICO de 28.10.
A Igreja de Roma fabrica santos como quem fabrica pãezinhos quentes. Como está a ver desmoronar-se o seu poder, porque a ignorância está a diminuir na humanidade, e o conhecimento dos seus crimes ao longo da históaria, e mesmo no passado recente, conduz ao seu descrédito, põe-se a fabricar santos.
Gente ligada ao franquismo e que colaborou com os massacres perpetrados na Guerra Civil de Espanha entre 1936-39, senão activamente, como é o caso de monsenhor Escrivá de Balaguer, pelo menos com o seu silêncio. Ou gente como o papa de Hitler, Pio XII, são declarados santos por decreto papal, como foi extinto o .limbo também por decreto papal.
A rapidez com que são declarados santos faz lembrar a rapidez com que um dos grandes patifes da História, o papa Inocêncio III, declarou santo Pedro de Castelnau.
Este Pedro era um outro patife, enviado do papa à Occitânia para preparar o massacre dos cátaros. Ele próprio foi morto, porém, logo no início da sua missão. Quando um mensageiro veio dizer a Inocêncio III que Pedro de Castelnau tinha sido morto, e apresentava ao papa o hábito dele, Inocêncio corrigiu o nome dizendo para o mensageiro: " Quererás dizer o hábito de São Pedro de Castelnau." Ainda naquele dia canonizou o tal Pedro de Castelnau e iniciou a cruzada contra os cátaros, um dos maiores massacres perpetrados na Idade Média ocidental.
A história repete-se, e os santos continuam a ser úteis.
Portugal está a funcionar como aquela aldeia de África
em que o fazendeiro emprega toda a população, e é dono da única
mercearia da aldeia.
Os seus trabalhadores que ganham o mínimo para subsistirem, às
vezes com fome, consoante as condições da família, depois de
receberem o ordenado vão à mercearia do patrão e compram lá
tudo o que precisam para sobreviverem, desde comida a vestuário
e calçado.
No dia seguinte ao do recebimento do ordenado, a maior parte
deste ficou logo nas mãos do fazendeiro para o qual trabalharam
durante o mês. E o resto foi quase todo parar às mesmas mãos
durante o resto do mês.
Entretanto o fazendeiro tem casas e carros de luxo, dá festas
faustosas, passeia pelo estrangeiro, joga no casino, sustenta
amantes, e corrompe funcionários públicos com o seu dinheiro
- isto é, com o dinheiro que ganha na fazenda e na mercearia
de que é proprietário.
Além disto, vai investindo noutras fazendas o que lhe sobra
dos gastos.
É assim que funciona Portugal.
Basta substituirmos os nomes para vermos Portugal em África:
A fazenda africana tem o nome de banca.
A mercearia do fazendeiro tem o nome de grandes superfícies.
"Fontana di dolori, albergo d´ ira,
Scola d´ errori, e tempio d´eresia;
Già Roma, or Babilonia falsa e ria,
Per cui tanto si piagne e si sospira:
O fucina d´ inganni, o priggion dira,
Ove ´l ben more, e´l mal si nutre e cria;
Di vivi inferno; un gran miracol fia
Se Cristo teco al fine non s´ adira.
Fondata in casta ed umil povertate,
Contra i tuoi fondatori alzi le corna,
Putta sfacciata: e dov´ hai posto spene?
Negli adulteri tuoi, nelle mal nate
Ricchezze tante? Or Constantin non torna;
Ma tolga il mondo tristo ch ´l sostene"
[Fonte de dores, albergue de ira,
Escola de erros, e templo de heresia;
Outrora Roma, agora Babilônia falsa e criminosa,
Por cuja causa muito se chora e se suspira.
Ó forja de enganos, ó prisão de ira
Onde o bem morre, e o mal se nutre e cresce
Dos vivos, inferno; um grande milagre seria
Se Cristo contigo, enfim, não se enfurecesse.
Fundada em casta e humilde pobreza.
Contra os teus fundadores levantas teus chifres,
Meretriz desaforada: onde puseste esperança?
Nos teus adultérios, nas mal nascidas
Riquezas tantas? Agora Constantino já não volta;
Mas que lhe seja tirado, pelo mundo triste, aquilo que a sustenta]
PETRARCA - Rimas
Mas Clemente e Filipe tinham feito um pacto misterioso.O duro Capeto teria dito a Bertrand de Got: se tu queres a tiara, promete-me que me entregar as cabeças! E o prelado aquitânio teria respondido ao monarca: eu prometo-te as cabeças, dás-me somente a tiara! Era preciso, portanto, manter este trágico pacto. Tratava-se dos Templários. Senhor do papado, o rei, que jálhe tinha roubado o seu tribunal, a Inquisição, estava decidido, para completar a sua obra política, a arrebatar-lhe a Ordem do Templo, a sua milícia...A supressão da Ordem continuou depois da coroação de Clemente V, e o processo contra os cavaleiros, essa iniquidade bárbara, foi o grande acto que permitiu a instalação do papado francês em Avignon. O povo revestiu de maravilhas este drama cruel.
NAPOLEÃO PEYRAT - História dos Albigenses
No dia de cólera de 13 de Outubro de
A esse crime assim se referiu o divino Dante, no canto XXXI da sua Comédia:
“Ché dove l’argomento de la mente
S’aggiugne al mal volere e a la possa
Nessun riparo vi può far la gente.”
( porque quando o poder próprio da mente
à maldade se junta e à força bruta
que resistência lhe há de opor a gente?).
Nesse dia, mentes possuídas pela maldade utilizaram a força bruta para destruir a Ordem iniciática que o templário Dante Alighieri tinha em vista ao escrever estes belíssimos versos.
Nesse dia,a grande prostituta - como lhe chamaram tantos, além de Dante, a começar pelo doce Petrarca- a Igreja de Roma e Avinhão, e o gigante Filipe, guiados pela mente brilhante e perversa do cátaro Guilherme Nogaret, puseram em prática a destruição da Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, ou ainda, da Santíssima Trindade.
Na sua Divina Comédia, referia-se à Igreja de Bonifácio VIII e de Clemente V, inspirando-se na passagem do Apocalipse de S. João em que o místico de Patmos escreveu:
“Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está sentada junto de muitas águas, com a qual se contaminam os reis da terra.
…
Vi que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos com o sangue dos santos e com o sangue dos mártires de Jesus.
…
Porque te admiras? Explicar-te-ei o mistério da mulher e da besta que a traz, a qual tem sete cabeças e dez chifres.”
Nessa sexta feira treze, tão longínqua que poucos sabem porque é um dia aziago, a Igreja Católica e o Rei de França começaram a fazer correr o sangue dos mártires templários, dos santos e dos mártires de Jesus.
Muito já foi dito sobre o novo Código de Processo Penal, nomeadamente sobre a pressa da sua entrada em vigor em 15 de Setembro, contrastando com o vagar prudente e avisado da entrada em vigor das alterações ao Código de Processo Civil. E muito do que foi dito certamente acabará por cair em saco roto porque se criticaram em bloco todas as alterações, e, por isso as críticas certeiras acabam por ser neutralizadas pelas críticas sem razão, ou com menor razão, como é, neste caso, a data da entrada em vigor da nova lei.
Mas há algo que tem de ser dito pela comunicação social porque não se trata só da defesa dos interesses da comunicação social mas da defesa do interesse nacional.
A proibição da transcrição, pela comunicação social, das escutas telefónicas feitas em processos crime, mesmo depois de estas não estarem abrangidos pelo segredo de justiça, é a maior forma de protecção da corrupção engendrada por qualquer governo depois do 25 de Abril.
Todos sabemos que a maior parte dos processos de corrupção em curso neste país, antes de serem investigados pela polícia, foram divulgados pela comunicação social, nacional regional ou local. É inquestionável o papel da comunicação social na formação da opinião pública.
Todos sabemos que existem modos lícitos de se praticarem actos ilícitos, ou eticamente e politicamente condenáveis.
Os cidadãos têm direito de conhecerem e formarem um juízo sobre esses actos, e a única forma de o fazerem é a possibilidade de serem divulgados, através da transcrição das escutas telefónicas nos órgãos de comunicação.
As escutas telefónicas só poderão ser efectuadas em casos específicos, sobre crimes de particular gravidade, à frente dos quais estão os crimes de corrupção, nunca constituindo uma pura intromissão da vida privada dos cidadãos.
Os homens públicos têm de estar sempre sob o escrutínio dos cidadãos para que a democracia se possa exercer em pleno.
O impedir a transcrição das conversas sobre assuntos de interesse público, tidas por homens públicos, pela comunicação social, é impedir o pleno exercício da democracia.
E essa responsabilidade tem de ser assacada a este governo, autor desta reforma do Código de Processo Penal.
A vitória de Luís Filipe Meneses nas eleições para líder do PSD pode ter constituído uma surpresa para muitos que viam no apoio das grandes figuras deste partido a Marques Mendes, a começar por Cavaco Silva, a garantia de que Mendes iria ganhar. Mas, depois dos episódios da retirada de apoio a Valentim Loureiro, Isaltino Morais, e, sobretudo, Carmona Rodrigues, com os desastrosos resultados eleitorais conhecidos para o PSD, a liderança de Mendes estava ferida de morte.
O PSD é um partido de poder, e os militantes do PSD perceberam que os pruridos morais que Mendes exibiu eram um enorme obstáculo a que o PSD regressasse depressa ao poder.
As medidas de saneamento moral levadas a cabo por Marques Mendes seriam benéficas para o país que necessita de honestidade e de rigor na governação, indispensáveis para a política e os políticos, vistos pela generalidade dos portugueses como aldrabões e todos iguais, e, a longo prazo benéficas para o PSD que poderia, em futuras eleições legislativas, invocar o grande feito de ter contribuído decisivamente para a moralização da vida política portuguesa.
Mas se isso foi compreendido pelas elites não o foi pelas bases do PSD, e estas deram a vitória a Meneses, que já tinha demonstrado não ter esses pruridos morais, por palavras e actos, a começar pela célebre estória das viagens de avião quando Meneses era deputado.
Meneses ganhou. No entanto não irá ser fácil a sua liderança - embora também não seja fácil retira-lhe o poder ora conquistado. A oposição persistente que dirigiu à liderança de Mendes irá agora ter a resposta firme das gentes do PSD de Lisboa.
Meneses poderá escolher uma de duas vias: ou negociar com os barões lisboetas e integrar-se no esquema de interesses ligados à macrocefalia da capital, ou persistir nas suas propostas descentralizadores e afrontar esses interesses.
Estamos em crer que Meneses irá escolher a segunda via, e persistirá na defesa do atenuar da macrocefalia lisboeta e da repartição do poder por todo o país como proposta essencial do PSD para o desenvolvimento nacional.
Desde logo porque, para quem sempre defendeu a regionalização, se tornaria um enorme factor de descrédito passar a opor-se à regionalização a partir do momento em que atingiu a liderança do PSD. E esse factor de descrédito poderia vir revelar-se um obstáculo decisivo para as ambições de Meneses de fazer regressar novamente o PSD ao poder.
Por outro lado, Meneses bem sabe que a sua base essencial de apoio, dentro e fora do PSD, está no Norte, e marginalizar essa base de apoio poderia significar perder o que tem, e não ganhar o que não tem, que é o apoio dos barões e bases lisboetas.
Sem querer arvorar-nos em conselheiros de ninguém, pensamos que a primeira proposta que poderia colocar Meneses como vencedor, face a um Mendes com imagem de perdedor, seria o antecipar-se ao PS e propor a realização de um novo referendo sobre a regionalização.
Mas com uma versão diferente da proposta do PS, que seria criação das cinco regiões tradicionais mais as regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto, defendidas por muitos dentro do próprio Partido Socialista, diferindo assim da proposta de criação de apenas 5 regiões que é a da direcção socialista.
Essa seria uma grande mudança na estratégia de desenvolvimento nacional que acompanharia a grande mudança no PSD que foi a vitória de Luís Felipe Meneses.