Em conversa com o meu amigo Manuel António Pina, ultimamente muito solicitado pelos políticos em busca da legitimação dos intelectuais, manifestou-se ele esperançado de que o jornal em suporte de papel nunca morresse, porque não há nada que substitua o prazer de tactear e de cheirar o papel.
Infelizmente, não posso ser da sua opinião, eu que não consigo ler grandes textos a não ser em suporte de papel, eu que desde que tenho consciência de mim tenho vivido no prazer de tactear e cheirar o papel que serve de suporte ao que leio.
A nova geração que começa a surgir já aprende a ler e escrever nos computadores. O prazer do tacto é, para eles, o prazer das teclas, que poderão aproximar-se dum instrumento musical qualquer. Talvez, e ainda em breve, os computadores proporcionem aos seus leitores os odores mais insólitos.
Por outro lado, talvez esta descomunal destruição da floresta, tão essencial à vida, que é indispensável para que o jornal e o livro existam, seja visto pelas gerações futuras como um obsoleto crime ecológico.
Se a tudo isso acrescentarmos a leveza, a maleabilidade e a vastidão de conteúdos que as futuras tecnologias, com toda a certeza, irão proporcionar no domínio da informação electrónica, compreenderemos que estamos a assistir ao princípio do fim do uso em massa do suporte de papel para o jornal e o livro.
Ao princípio do fim dos pilares do que mais amamos.
Bebo este vinho acidulado e triste
no copo onde boia
o tambor da minha infância a arder
e aí vou eu de espada flamejante em riste
olhando a vida toda a perecer-
-vou pela dor dos campos
onde morde a erva o boi da paciência
que me viu nascer
-vou pelos ares dentro dos olhos
duma águia errante
que o sol cega quando vai morrer
-vou pelos mares num anel
de fogo que os odres do céu sopram
pra mim e a ti - pra tudo envolver.
HENRIQUE DÓRIA
O Mensageiro das Trevas apareceu-lhe na cama quando ele sonhava com Lolita. Não teve hipótese de lhe fazer um manguito. E muito menos de fazer uma punheta antes de se despedir da Luz. Nunca nos dá hipóteses O Mensageiros das Trevas. O Filho da Puta. Levou a liberdade e a loucura. Levou às costas aquele que sempre se recusou a ser levado. Até, ao Fim.O Luiz ( ou Luís, como queiram, que já de nada se importa) Pacheco.
Fica um enorme buraco na Terra.
Ámen para o sacrílogo