Realizei hoje algo que se transformou para mim num ritual sagrado: comemorar o 25 de Abril na Baixa do Porto, ali na Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade. Aí onde se encontra o povo, onde é partilhada a Santa Liberdade.
Mas foi um dia triste. O povo parece não acreditar já em nada, muitos menos nas promessas já esfumadas de Abril.
Poucos e tristes que nós estávamos.
Porque aqueles que sofrem o sofrer dos outros, aqueles que lutaram e arriscaram pelo bem de todos foram defraudados por estes videirinhos que tomaram o poder e se governam fingindo que nos governam, entre o PS, o PSD e o CDS, os partidos do poder.
Claro que há excepções. Mas, passe a vulgaridade da expressão, a rara excepção confirma a regra.
Aqueles que sonharam e continuam a sonhar, aqueles que tudo deram pela Pátria, os Vasco Lourenço, os Otelo, os Assunção, foram traídos.
Nós que também sonhamos com um mundo melhor estamos a ser traídos.
É isto inevitável em todas as revoluções, como dizia Carlyle?
Ainda acredito que não. Ainda acredito que o Abril traído há-de voltar.
Continuarei sempre a fazer algo para que volte.
Aqui reside o eterno retorno, e não no modo como o considerava Nietzsche: porque no Ser existe uma escada para a perfeição.
HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos.
Não existe unidade no universo, ao contrário do que pensavam, por exemplo, Nietzsche e os pré-socraticos.Existe sim dualidade, o Ser e o Nada, o Iin e o Yang.
Ao criar o Ser, o definido, o Nada diminui-se, e o seu modo de restabelecer o equilíbrio é a morte, que constitui o regresso do Ser ao Nada.
Perdendo energia no acto da criação do Ser,conforme a segunda lei da termodinâmica, o Nada recupera a energia perdida através do acto da morte, assim se restabelecendo o equilíbrio. Porque a necessidade de restabelecimento do equilíbrio é também uma lei universal, comum ao Ser e ao Nada.
Não há nisso qualquer expiação, ao contrário do que pensava Anaximandro, porque a criação e a vida não são actos morais, mas apenas modos de o Nada e o Ser se reconhecerem a si mesmos.
Ao que eu designo por Ser, os cientistas designam por matéria. Ao que eu designo por nada, os cientistas designam por anti-matéria.
E tal como os cientistas acreditam que a anti-matéria é muito maior que a matéria, também acredito que o Nada é INFINITAMENTE maior que o Ser.
HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos
O Nada tem necessidade de gerar a vida para poder encontrar quem o reconheça.
Mas como a fêmea louva-a-deus faz ao macho, depois do acto de amor que é a criação da vida, devora-a.
HENRIQUE DÓRIA- Fragmentos
As palavras constroem casas
E casas dentro das casas
E novamente casas dentro das casas
Onde guardo a minha mão cortada
Num trono de crisântemo
Para com ela reger o meu reino
Arruinado.
HENRIQUE DÓRIA
Chamo por ti Inti-Inti-Inti
O meu falcão
O meu olho solar.
Nasceste de um dos cinco ovos
Nasceste na montanha mais alta.
Em ti tudo fala do vôo
Inti
Do azul conduzes as águas
A pradaria e o deserto
Guardas a luz dentro
De duas ânforas
Para com ela enfrentares a luz.
Debaixo da tua
Iris
Há uma marca sagrada
Por isso nunca chegarei a ti
Ao teu vôo vertiginoso
Eu que sou só
A sombra da tua asa esquerda
Que a tua serena força acaricia
Eu que sou só
O meu crepúsculo.
HENRIQUE DÓRIA