LUCIO FONTANA
Como se estivesse ali o nosso destino
Sobre a terra
De nós que sofremos a vida
Até às esquecidas margens
De pedra em pedra frágeis
Mais ainda do que as águas
Tombando vamos sobre os dias
À procura do mar
Que enfim nos salve da dor
Eternamente começada
Em sua espuma inocente.
A lua reclina então a sua face exausta
Nosso espelho, irmã no fim
Que sabe ser o infinito azul.
HENRIQUE DÓRIA- Círculo da Terra
O MANIFESTO que trinta pretensas personalidades políticas deram à luz recentemente é apenas um acto de BAIXA POLÍTICA, de apoio encapotado a essa desgraça nacional que se chama Manuela Ferreira Leite e à fome de poder do bloco de direita PPD/CDS ( sem prejuízo de haver muita fome também no PS).
Revestido da sua aura pretensamente técnica, o que eles e outros estão a fazer é baixa política, pondo em prática o seu ódio a Sócrates ( como diria o Marinho Pinto eu até sou insuspeito porque não irei votar nele).
Senão como explicar que sendo o TGV uma opção do PPD e do CDS que data de há tantos anos, só agora esses senhores tenham vindo levantar o problema, agora que a despesa pública que se vai fazer é muito inferior à que essa dita cuja Manuela Ferreira Leite há meia dúzia de anos entendeu que era essencial para o futuro do país?
SÓ PODE SER IGNORANTE OU DESONESTA A AFIRMAÇÃO DESSES SENHORES DE QUE HÁ QUE AUMENTAR A CIRCULAÇÃO NA LINHA DO NORTE.
Eles sabem muito bem que tal não é possível porque os actuais intervalos de segurança entre os comboios são de 8 minutos, e a normas internacionais apontam para 15 minutos.
Eles sabem muito bem que o TGV de Madrid a Sevilha, por exemplo, dá lucro. Que as ligações aéreas entre Madrid e Sevilha acabaram devido ao TGV. E sabem bem que tal sucederá relativamente às ligações Lisboa-Madrid e Lisboa-Porto se tivermos TGV.
E que o TGV dará lucro nessas linhas, ao contrário do comboio.
E, sobretudo, sabem que o que pouparemos em factura energética e conservação do ambiente é MUITO IMPORTANTE.
Sabem mas dizem o contrário só por isto: FAZEM POLÍTICA RASCA.
E O QUE É QUE ESSA GENTE TODA QUE FOI MINISTRO AO LONGO DOS TEMPOS, CERTAMENTE NOS ÚLTIMOS 25 ANOS DO PAÍS, FEZ POR ESTE PAÍS?
ENTÃO TODOS ELES SOMADOS GOVERNARAM O PAIS DURANTE MAIS DE 25 ANOS E AINDA VÊM DAR LIÇÕES DE BOA GOVERNAÇÃO DIZENDO QUE O PAÍS ESTÁ MAL?
MAS ELES NÃO TÊM RESPONSABILIDADE NO FACTO DE O PAÍS ESTAR MAL?
Se há algo que provoque a minha indignação é este comportamento cínico e sofismático.
Eles sábios?
Depois de ter lido HAROLD BLOOM, esta palavra referida a eles soa a blasfémia.
15 Junho 2009
Na semana passada morreu de cancro a minha cunhada Arlete. Esta semana iniciou-se para mim com notíca de um cancro na Nina, uma dessas pessoas admiráveis que encontramos na blogosfera, no meio de tanta vulgaridade.Pensar a Nina é pensar a bondade e a beleza. Parece que Deus tem mais prazer em destruir mais cedo os melhores seres que criou.Talvez um fortíssimo círculo de amor à sua volta consiga com que o homem contrarie o desejo de Deus. Por isso irei fazer, com tantos para os quais a Nina é muito importante, um círculo de amor à sua volta.
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17 Junho 2009
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Gosto da frontalidade do Marinho Pinto, virtude que é cada vez mais rara num mundo em que a oportunidade passou a ser a regra essencial da sobrevivência ou do triunfo.
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A correcção dos seus dizeres nem sempre tem sido a melhor. Mas é melhor dizer incorrectamente o que deve ser dito do que não o dizer.
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A notícia e, sobretudo, a morte do Pedro Bourbon fez-me sentir culpado do modo distraído e trivial com que passo a minha vida, perdendo muito do que nela é essencial: a vivência da amizade.
Caindo em mim, só pude pedir desculpa aos excelentes filho do Pedro, através dos quais tive a notíca de que morrera, há três anos, com um cancro.
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Muito boa notícia: os marcadores da Nina não são cancerosos.Há a possibilidade de o cancro ser controlado.
Pela primeira vez me encontrei só, numa capela mortuária, a velar um morto amado.Ali ao lado, a Igreja, o cemitério e as vozes agitadas da manhã de Primavera.
Dentro da capela, a paz sofrida junto da morta amada faz-me perceber melhor quanto a vida é um jogo de crianças distraídas que acaba entre flores e lágrimas.
Conseguiríamos nós suportá-la sem a ajuda de uma religião salvífica se assim não fosse?
Creio que não.
Mas a esperança de salvação eterna destrói-se a ela própria perante a presença constantemente repetida da morte e do sofrimento, em todos os lugares.
E, depois, os que nos prometem a salvação tudo fazem para parecerem os primeiros a não acreditar nela.
Por exemplo, o padre desta igreja que não podia rezar a missa de corpo presente porque não tinha tempo para isso, teve necessidade de mostrar o seu poder impedindo um sobrinho meu, que frequenta o último ano do seminário e faz a celebração como a Igreja lho permite, de fazer essa celebração.
Segundo esse padre, quem mandava na sua igreja era ele. Por isso, ali, só ele celebrava.
Certamente que este padre não acredita na salvação.
Estava apenas a jogar o jogo de criança distraída.
HNERIQUE DÓRIA-Fragmentos
A DRAMÁTICA ABSTENÇÃO
Se há um motivo forte de reflexão em relação às eleiçõe europeias de hoje é o nível elevadíssimo da abstenção em toda a Europa, mas particularmente em Portugal.
Responsáveis por isso?
Em primeiro lugar:
os portugueses, que se interessam muito pela Europa na medida em que ela os ajuda a viver acima das suas posses;mas quando se trata de se responsabilizarem pelo futuro da Europa através do voto preferem ir dar uma volta pelo centro comercial, nem que seja só para verem as montras.
Em segundo lugar:
os partidos políticos que nas eleições europeias discutiram tudo menos a Europa, contribuindo para o alheamento dos eleitores que bem sabiam que estas elçeições eram para o Parlamento Europeu e não para o Parlamento Nacional.
De tudo o que se declarou hoje anoto apenas como importante o que disse Rui Tavares, o 3º deputado eleito pelo Bloco de Esquerda:
(cito de cor) "Só a Europa nos pode salvar; só nós poderemos salvar a Europa."
Mas parece que os diferentes povos da Europa não perceberam ainda que só a sua união os poderá salvar, e os próprios governos dos países europeus, imersos no seu egoísmo e na sua mediocridade, também ainda não perceberam essa verdade evidente.
Não parecem ter percebido que, no mundo cada vez mais globalizado em que nos encontramos, só a construção de um grande bloco europeu poderá preservar não só a cultura comum de que tem tanta legitimidade para se orgulhar, mas também a economia de que tem todo o interesse em preservar como primeira economia mundial.
Se os europeus e os seus governos ainda não perceberam, convém que percebam que estão em causa a democracia e a paz em todo o espaço europeu, que a União Europeia e, antes, a Comunidade Económica Europeia consolidaram ao longo de meio século.
OS RESULTADOS ELEITORAIS
Durante algum tempo, apoiado nas sondagens, ainda acreditei que o PS ficaria em primeiro lugar no número de votos expressos.
Mas os resultados eleitorais ditaram a sua derrota clamorosa, se bem me lembro um dos piores resultados de sempre do PS.
Foi o resultado da sua cegueira política em alguns sectores, em particular na função pública, e, dentro desta, na educação.
O PS arrogante ainda não percebeu até que ponto foram a arrogância e a incompetência da ministra e dos seus secretários de estado, os principais culpados pela sua derrota.
O PSD venceu. Mas este seu resultado foi também um dos piores em eleições europeias.À direita salvou-a sim a inesperada resistência do eleitorado do CDS, que ainda lhe dá esperanças de poder governar face a uma esquerda largamente maioritária, mas dividida.
Vencedor foi, sem margem para dúvidas, o Bloco de Esquerda: mais que duplicou os anteriores resultados e passou de um deputado para três.
O resultado da CDU é algo ilusório, porque o eleitorado da CDU tem uma fidelidade que não existe em relação aos outros partidos, incluindo o BE, pelo que a abstenção a favoreceu muito. Em futuras legislativas se verá quanto os 10,7% de hoje são ilusórios, mas não o são relativamente ao Bloco de Esquerda.
VITAL MOREIRA
Ao contrário dos analistas políticos que, como damas de chá e canasta se escandalizaram com a frontalidade de Vital Moreira, entendo que a sua actuação se pautou pela frontalidade e pela verdade, nem que fosse a sua verdade, de que muitas vezes discordo.
Num país de medíocres e videirinhos, quem usa a frontalidade e a sua verdade corre o risco de ser derrotado. Vital Moreira ousou enfrentar a mediocridade e os falsos pudores e, como era inevitável, perdeu.
Mas não perdeu na consideração de quem não se conforma com a mediocridade e a videirice gerais.
Tentou trazer a Europa para o debate eleitoral. Não o conseguiu porque o PS não o deixou.
Viajei 180 km para votar nele, não no PS. Não estou arrependido.