Eu - Que lindo sol tão engraxadinho.Usou a melhor graxa negra, não foi meu amigo?
Engraxador- Tinha de ser. Para morrermos juntos temos de ter qualidade de vida.
A alegação, pelos magistrados do Ministério Público encarregados da investigação do caso Freeport, de que em 6 (seis!) anos de investigação não houve tempo para interrogar Sócrates nem Sillva Pereira, pode ter duas leituras, qual delas a mais grave:
1º-Ou o MP quis proteger deliberadamente Sócrates e, paralelamente, Silva Pereira, sabendo que poderiam ser constituídos arguidos.
2º Ou o MP quis continuar a queimar Sócrates em lume brando apesar de saber que nenhumas suspeitas fundadas recaiam sobre ele.
Embora o primeiro caso seja a leitura que a classe política da oposição e o chamado cidadão comum fazem sobre essa espantosa declaração do MP, é, sem dúvida, a continuação do queimar Sócrates em lume brando que a "explicação?!" do MP vai implicar.
E o MP não poderia ignorar isto.
E tudo deveria fazer para que os cidadãos atentos não tenham legitimidade para considerar que há aqui um entrada da justiça no campo da luta política, para servir alguns em prejuízo de outros.
Tudo o que vai dito no número anterior serviu apenas para demonstrar o absurdo das propostas de Hernâni Lopes e não só a sua imoralidade (vinda, aliás, de um conhecido membro da Opus Dei) mas também a sua inutilidade.
Porque, como todos mais ou menos percebemos, a presente crise deriva de duas causas: a primeira, estrutural, que consiste no enorme desequilíbrio dos custos de produção de mercadorias a nível mundial, desequilíbrio esse que faz com que a China e a Índia, por força do baixo custo de produção das suas mercadorias tenham:
a) enormes excedentes comerciais e um crescimento económico invulgar;
b) taxas de crescimento do produto ( PIB e PNB) invulgarmente superiores às dos países desenvolvidos, em particular União Europeia e Estados Unidos da América.
Todos sabemos como é que a Índia e a China conseguem essa desigualdade de custos: mão de obra próxima da escravidão (nalguns casos mesmo escravizada e infantil) quer no que toca a remuneração, quer no que toca a horários e condições de trabalho, e financiamento pelo Estado, em particular o chinês, da penetração das mercadorias chinesas ( incluindo força de trabalho) nos mercados mundiais, até à mais recôndita aldeia de Freixo-de-Espada-à-Cinta, aqui neste recanto mais distante da China.
Mas além da desigualdade de custos, ambos os países conseguem uma maior desigualdade de preços quer através dos enormes subsídios à exportação quer da simples contrafacção das marcas ocidentais, disfarçadamente tolerada pelos respectivos governos.
A solução de fundo da questão joga-se no local onde se poderão discutir estas condições de desigualdade de custos e preços internacionais: a Organização Mundial do Comércio ( OMC).
Até agora a UE e os EUA têm cedido sem pestanejar às exigências da China e da índia de baixarem as suas taxas alfandegárias e não discutirem a formação dos custos de produção e dos preços das mercadorias. Isto por exigência dos bancos e grandes grupos económicos que se pretendem instalar na China e na Índia, e em prejuízo de toda a economia nacional.
Única solução para as causas estruturais da crise das economias ocidentais: exigência por parte a UE e os EUA de abertura de negociações a nível da OMC para discussão das condições de formação de custos de produção e preços de mercadorias de modo a restringir drasticamente o dumping social e económico, e até o dumping ambiental, praticados pela China e pela Índia.
Mas para além destas causas estruturais, a actual crise tem outra vertente, que tem razões estruturais mas assumiu, agora, características conjunturais agravadas: o actual modelo de capitalismo ocidental baseia-se sobretudo no capitalismo líquido, isto é, nos mercados que lidam com o dinheiro e não com os bens e na sua actuação em roda livre nas economias ocidentais, situação essa que conduziu às vigarices dos bancos Bear Stearns e Lehman Brothers, entre outras, nos EUA, do Bradford & Bingley, do Merrill Lynch, do Dexia e outros na UE, e todos na Islândia, e, em Portugal, particularmente desses instrumentos de financiamento do PSD e dos seus bosses e boys ( e marginalmente do PS) que eram o BPN e o BPP.
Lembre-mo-nos que, em 2006, havia um défice semelhante ao actual e ninguém falava dele como se fala agora porque apenas porque não tinham rebentado ainda estes dois casos do BPN e do BPP.
Mas como fazer para que tal não volte a acontecer?
Só uma medida produzirá efeito: participação relevante do Estado em TODOS os bancos de modo a controlar e impedir POR DENTRO, todas as ilegalidades com off-shores e fugas ao fisco, bem como toda a gestão gananciosa e de alto risco.
Estas são medidas que deveriam ser tomadas a curto prazo. Mas há outras medidas que, em Portugal (e nas economias ocidentais), deverão ser tomadas com urgência para resolverem as deficiências estruturais da nossa economia e da nossa sociedade, em primeiro lugar quanto à função das empresas e à TRÁGICA mentira da flexibilidade laboral. Voltarei a elas nos próximos textos.
Mas utilizando o raciocínio “científico” de Hernâni Lopes e desenvolvendo-o até às últimas consequências, sempre lhe direi que um corte de 20% nos rendimentos dos assalariados não chega.
Para produzir um efeito sustentável, isto é, para não andarmos a cortar 20% este ano, depois mais 20% em 20011, 2012 e 2013, o corte nos salários de TODOS os portugueses, e não apenas do funcionalismo público, terá de ser de, pelo menos, 80%.
Passo a explicar porquê.
Como é sabido, para além das vigarices pontuais daquela gente tão querida do PSD e de Cavaco Silva (Dias Loureiro, Jardim Gonçalves e companhia) a crise nacional deriva, antes de mais, dos desequilíbrios mundiais causados pela ascensão fulgurante na economia mundial do grupo BRIC (Brasil, índia e China). É o desequilíbrio com o grupo BRIC que tem de se ter em conta para equilibrar a dívida nacional, pública e privada, sendo certo que a dívida privada de que ninguém fala, nem o tão rigoroso Hernâni Lopes, é muito maior e mais grave do que a dívida pública.
Não falando no caso da Índia nem do Brasil, falemos do essencial, que é a China.
Para podermos competir nesta economia global com a China, teríamos de fazer um corte imediato nos rendimentos dos assalariados portugueses de, pelo menos, os tais 80%.
É que o rendimento dos assalariados urbanos chineses andará pelos 115 euros mensais. Não levamos em conta os rurais chineses, porque se os levássemos em conta a situação seria muito mais dramática e a exigir cortes muito maiores para os assalariados portugueses.
O rendimento médio dos assalariados portugueses (incluindo os rurais) ronda os 800 euros mensais.
Para nos colocarmos numa situação competitiva com os chineses, o rendimento médio dos assalariados portugueses teria de descer para 160 euros mensais, pelo menos. O tal corte de 80%.
E mesmo isso poderia não ser suficiente. Como sabemos, um grande número de trabalhadores chineses trabalha 12 hora por dia, só tem um dia de folga por semana, e come e dorme na fábrica.
Não levando as coisas a esse extremo, mas aproximando-as de uma situação de competitividade, o horário nacional de trabalho deveria subir para as 10 horas diárias, pelo menos.
Só com estas medidas se alcançaria o equilíbrio de mercado tão desejado por Hernâni Lopes e seus próceres do PSD e Cavaco Silva.
Hernâni Lopes que se quis mostrar tão corajoso, não o foi, nem de longe nem de perto.
Para ser sustentável, o corte nos salários deveria ser de 80% e não apenas de 20%, e o horário de trabalho dos assalariados portugueses deveria subir para 10 horas diárias.
Medida imediata, assim, sem explicações, como o pretende Hernâni Lopes.
( a continuar)
Declaração de interesses: não sou assalariado.
Há momentos em que se torna impossível conter a nossa indignação perante a estupidez e o cinismo. Mas intervenção de Hernâni Lopes numa reunião dessa desgraça nacional que é um partido que dá pelo nome PSD ( o tal do BPN, do BPP e afins) forçou-me a divulgar no odisseus a minha indignação.
Esse membro da sinistra confraria que dá pelo nome de Opus Dei, veio dizer na tal reunião ( e à televisão) rigorosamente isto:
Para que o nível de vida dos portugueses não baixe será necessário um corte de 20% nos vencimentos dos funcionários públicos, E JÁ, sem explicações.
Temos aqui quatro dados do problema:
a) O que fazer para que o nível de vida dos portugueses não baixe;
b) Segundo o membro da santíssima Opus Dei Hernâni Lopes, o governo deverá impor um corte de 20% nos vencimentos.
c) Esse corte deverá ser nos vencimentos dos funcionários públicos.
d) Esse corte deverá ser efectuado já ( a tal história salazarenta de sem explicações é até secundária).
Isto é, o que esse iluminado de Deus afirma é o seguinte: para que o nível de vida dos portugueses não baixe, é necessário baixar JÁ o rendimento de ALGUNS portugueses de 20%.
Das duas uma (se pode retirar desta charada): se se trata do nível de vida de todos e de cada um, ou a baixa de rendimentos nada tem a ver com o nível de vida, ou os funcionários públicos não são portugueses.
Como presumo que os funcionários públicos não são marcianos, mas portugueses, e acredito que o tal senhor também aceite esta premissa, resta concluir que, para Hernâni Lopes, uma baixa dos rendimentos dos portugueses que são funcionários públicos nada têm a ver com o nível de vida dos portugueses em geral.
Não pensem que se trata da quadratura do círculo. Não é.
A verdade é que o rendimento dos funcionários públicos pode baixar 20% mas manter-se o nível de vida dos portugueses em geral.
Para tanto basta que suba o rendimento dos portugueses que não são funcionários públicos.
Não tenho dúvidas que era nisto que o iluminado de Deus Hernâni Lopes estava a pensar: a baixa dos rendimentos dos funcionários públicos seria então compensada pelo aumento dos rendimentos dos portugueses que não são funcionários públicos.
Mas será que esse iluminado do Senhor queria dizer: de TODOS os portugueses que não são funcionários públicos?
É óbvio que não. Porque nesse e noutros momentos esse senhor já disse que temos salários muito elevados, e ele não ignora que uma baixa de rendimentos na função pública teria como óbvia implicação uma baixa dos rendimentos pelo menos na grande maioria dos assalariados do sector privado.
Portanto, ele só queria dizer que o equilíbrio do sacrossanto mercado e a manutenção dos rendimentos médios dos portugueses em geral só se alcançaria com a baixa dos rendimentos dos portugueses assalariados ( do Estado e do sector privado) e com o aumento dos rendimentos dos que não são assalariados, isto é, com os aumentos dos rendimentos dos senhores do capital.
E que isso deve fazer-se já.
Como ele não ignora que a maioria dos portugueses que é funcionária do Estado e assalariada do sector privado vive em estado de pobreza, ele não pode ter querido dizer senão isto:
a maioria dos portugueses já pobre tem de ficar 20% mais pobre para que uma muito minoritária minoria de portugueses já rica fique mais rica.
Para que se perceba ainda melhor:
o que esse indivíduo propõe é uma transferência de rendimentos dos assalariados ( sector público e do sector privado) para uma minoria de detentores do capital do sector privado, a fim de que se alcance o equilíbrio
a) na dívida pública, através da diminuição da despesa (tão falada pelos economistas iluminados pela Opus Dei e afins);
b) na dívida privada, que é muito maior que a dívida pública, através do aumento da receita dos detentores do capital, cuja dívida externa anda perto dos quase 100% da dívida externa privada, através dum aumento da sua receita, conseguido pela transferência em seu benefício dos rendimentos dos assalariados.
(a continuar)
Já não sabia como domar o seu segundo eu, tal era a hostilidade a si mesmo. Pensou então em tomar uma medida definitiva: usaria a nova dentadura de ouro para decepar a sua mão direita. Pegando nela com a mão esquerda, ficaria para sempre a dizer-se adeus.
Mas foi em vão tanta coragem e tanto desprezo pelo sofrimento próprio.
Adivinhando o seu fim próximo - porque não pode haver armários secretos dentro da mesma pessoa - a mão direita antecipou-se e cortou a esquerda com uma palaçoula para a atirar às hienas que, cheirando o conflito entre as duas mãos, há muito rondavam a casa onde elas pernoitavam em quartos separados.