Gostaria de ver abordado com grande destaque na campanha eleitoral o tema que há dias lançou a CDU: o estrangular da produção nacional causada pelo oligopólio da distribuição constituído pela SONAE e pela JERÓNIMO MARTINS. Eles estão a pagar aos produtores, em particular agricultores, preços de produtos equivalantes aos que pagavam há 10 ou 15 anos. E vendem depois produtos vindos de Espanha e de Marrocos que fazem passar por portugueses. Os produtores nacionais estão nas mãos da SONAE e do PINGO DOCE. E estão a financiar estes predadores na esperança de poderem subsistir. Grande número deles já encerrou as portas, com grave dano para a produção e para o emprego. Isto ao mesmo tempo que recebem dos Estado apoios ao suposto apoio à produção nacional, que o Estado bem sabe não existir mas, ainda assim, paga.
Dou-lhes um exemplo do que faz a SONAE: em cada fatura sacam 20% de rappel ( isto é, desconto por deterioração ou perda de produtos) e, nos impostos, descontam 30% para deteriorações e perdas. Quando abrem um supermercado, descontam uma percentagem na faturação que referem como sendo " reacção" (?!) ao shopping ( os produtores pagam a abertura) e outra percentagem para promoção.
Os agricultores nada podem fazer: se não forem eles ninguém lhes tira os produtos, pois a distribuição está nas mãos deles.
O poder nada faz, incluindo essa instituição lamentável e que só serve para pagar vencimentos chorudos, que é a AUTORIDADE DA CONCORRÊNCIA.
Tanto ou mais do que a TROIKA, estes predadores são a causa do grande drama nacional.
E ainda se dão ao luxo de publicitar que apoiam a produção nacional e são premiados por terem um comportamento ético ( como os prémios são fáceis de atribuir a quem tem dinheiro para os pagar!)!
Os partidos ( exceto agora, mas pouco, a CDU) nada dizem.
Seria bom que este tema, demasiado grave para ser ignorado, tivesse tratamento destacado na campanha eleitoral pela esquerda ( CDU e BE) pois o PS revela-se um partido de direita porque sabendo, cala, e PSD e CDS existem porque não passam de mandaretes desses e outros donos da riqueza nacional.
A arrogância de Sócrates levou-o a terminar mal um debate que lhe tinha corrido muito bem. Começou por demonstrar que Passos Coelho tem um programa escondido, nomeadamente quanto à saúde. Continuou bem até já perto do final, desmontando o programa liberal de Passos Coelho.
Mas capitulou nos temas essenciais.
Deveria ter-se preparado para dois temas nos quais, previsivelmente, Passos Coelho iria centrar o debate: o desemprego e o défice. E, certamente, que se teria preparado para eles. Mas, em vez de expor os seus argumentos e, depois de explorar as debilidades dos argumentos do Passos Coelho, preferiu o argumento vácuo de que Passos Coelho estava a prejudicar Portugal, era anti-patriota. Isto é, preferiu o discurso da acusação superficial e fácil a fazer crítica séria e apresentar os seus argumentos e propostas, convencido que já estava de ter ganho facilmente o debate.
A arrogância perdeu-o.
Neste momento, tenho dúvidas de que o PS venha a ser o partido mais votado nas legislativas, e que não seja possível uma coligação PSD/CDS com maioria absoluta da direita.
Sem dúvida que Sócrates tem muito culpa nisso, mas não devemos esquecer a culpa da restante esquerda, que continua com um discurso de seita que a torna incapaz de influenciar o destino de Portugal.
10 de Maio de 2011
A vertiginosa vida de Manuel d´Assunção com Maria Antonieta. Dois seres únicos, irrepetíveis, a que irei dedicar-me.
Conhecê-los e dá-los a conhecer. Merecem, devem ser amados mesmo depois da morte.
10 de Maio de 2011
A campanha eleitoral de tão previsível, de tão repetitiva, de tão vulgar teatro de sombras, tornou-se desprezível.
BASQUIAT-Auto-retrato
A vida era um molho de erva
Nas minhas mãos
E eu era o deus da erva.
Agradeço-te alma por te mostrares
Ao teu deus verde.
Agora já posso deitar-me na terra cortada
A olhar o céu dos sete ventos
A terra do outro deus sem rosto.
Ambos somos deuses na eternidade
Da nossa infância de erva.
O Bloco de Esquerda colocou no seu sítio na net um texto de apoio à greve dos maquinistas. Coloquei lá o seguinte comentário:
É este obreirismo que mata o BE. Os maquinistas são um grupo profissional privilegiado entre os trabalhadores: privilegiado em termos de horários de trabalho e remunerações.Diz o bom senso que esta não é uma greve a apoiar. Mas o Bloco apoia, não pela racionalidade, mas por crença ideológica.
Com isto deita por terra as medidas justas que propõe, como a criminalização do enriquecimento ilícito que acima está enunciada, E UMA ALTERNATIVA DE ESQUERDA.
Depois admira-se das sondagens.
Post scriptum: deve ser por ter estas opiniões, isto é, ideias próprias ( isto é, ideias alheias que organizo por mim, pois não meu é quanto escrevo), que algumas pessoas do BE do Porto não me querem lá. Certamente que querem voltar às votaçõers da UDP.
Diário - 12 de Maio de 2011
Prémio Camões para o Manuel António Pina. Justo premiar do poeta e do escritor cívico.
A sua poesia de encanto e desencanto, de amor e morte, as únicas coisas importantes na vida, é uma das vozes mais marcantes da atual poesia portuguesa.
Ninguém como ele aborda a realidade política e social do país com tanta preocupação de verdade e liberdade de pensamento - preocupação tão grande que começa pelo duvidar de si mesmo. Aborda a vida de Portugal e do mundo com humor melancólico.
Lúcido sem ponta de vaidade.
Um excelente amigo.
Sinto-me muito feliz por ele.
...
Aqui fica um dos poemas que mais me tocaram no seu livro NENHUMA PALAVRA E NENHUMA LEMBRANÇA:
O AQUÁRIO DE BOHM
Em algum sítio onde és um só
como dois gémeos divididos,
entre o nó da vida e o nó
da morte, um sonho dos sentidos;
em algum passado invivido,
em algum princípio, em algum modo
da memória ou do olvido,
em alguma estranheza, em algum sono;
ou em alguma espécie de saudade
física e inicial
de seres real,
pura exterioridade.
Regresso ao meu diário. A leitura de Kafka a isso me obrigou. Espero conseguir alguma regularidade nestas visitas a mim mesmo.
Sempre a excelente antena 2 como primeiro contacto de domingo com o mundo fora do meu quarto.
Música japonesa. O sofrimento é um punhal que corta por dentro. E, no meio do sofrimento infligido por uma lâmina tão fina que parece suave, a alegria de uma dança: Butterfly em seus pezinhos de seda escarlate.
Para os ocidentais exibem-se as cicatrizes. Para os japoneses escondem-se, guardam-se com pudor e amor.
No texto anterior já escrevi que a igualdade absoluta é um mito, mito esse que os que são contra a justiça usam com eficácia para manterem sociedades injustas em seu proveito pessoal.
Já escrevi que a desigualde no que toca à retribuição do trabalho consoante a diferente contribuição de cada um para o aumento da riqueza partilhada pela metade da sociedade que recebe menores rendimentos é justa e desejável.
É necessário afirmar agora que essa desigualdade se justifica pela necessidade de premiar o esforço de cada uma para o bem estar geral, como a sua criatividade para o surgimento de novas formas de produzir riqueza.
Mas as desigualdades devem ser limitadas sob pena de os menos capazes, muitas vezes por razões alheias à sua vontade, receberem menos do que devem receber de acordo com a riqueza global da sociedade e o princípio da justiça.
Entendo que o estabelecimento de uma retribuição mínima deve ter como contrapartida a fixação de uma retribuição máxima pelo trabalho.
E que essa retribuição máxima deverá ser 20 vezes à retribuição mínima.
Estas vinte vezes são um leque suficiente para premiar o esforço, a capacidade e o risco que a sociedade deve incentivar nos seus cidadãos.
E é um limite que deve funcionar quer no setor público quer no setor privado da atividade económica.
Não é preciso demonstrar que é fácil para o Estado a sua imposição em ambos os setores.