1.
A política tem destas ironias, porque o cinismo dos homens não tem limites.
Warren Buffet, que ainda há pouco dizia que o que se está a passar na economia mundial era uma guerra entre os ricos e os outros, e que os ricos estavam a ganhar essa guerra, veio agora dizer que é necessário pôr os ricos a pagar mais impostos e que os ricos não eram escroques mas pessoas de bem.
Ficamos a saber que especuladores, açambarcadores, manipuladores do poder em seu proveito, corruptores e até ladrões, são então pessoas de bem, no dizer de Buffet.
2.
O pedido de mais impostos para os ricos é um pedido dum especialista em especular e manipular.
Tendo já obtido uma colossal transferência de riqueza mundial para os mais ricos, percebe bem que isso de pouco lhes valeria ser as classes médias fossem reduzidas à indigência.
A procura dos seus bens e serviços tem de aumentar agora, para que a colossal acumulação da riqueza não redunde num desastre para eles, ricos.
E isso será a garantia da manutenção do que ganharam com esta guerra, fazendo render a sua riqueza.
3.
Os ricos à moda de Portugal, na sua enorme mediocridade e avidez de dinhiiro, ainda não perceberam isso.
A saída do Amorim de que é apenas um trabalhador cobre os ricos deste Portugal de pequeninos de ridículo. O néscio não o percebeu.
E não há dúvidas que ele sempre trabalhou bem: nas fraudes na formação profissional e nos negócios com Ceaucescu ( ele acredita que a nossa memória é curta), a escandalosa negociata da GALP, e agora, nos seus negócios com esses grandes trabalhadores que são os angolanos senhores do poder.
Assim trabalham os ricos em Portugal.
16 DE AGOSTO DE 2011
Viagens, convívio com a família na aldeia durante uma semana e, mais uma vez, este diário ficou em suspenso.
Regressei hoje ao trabalho, depois de uma interessante leitura das MEMÓRIAS, de Stuart Mill, encontradas por acaso num livreiro de Setúbal, uma pequena casa que transborda de amor aos livros.
Foi Nietzsche quem apelidou Stuart Mill de néscio. Poderia Stuart Mill não ter o génio de Nietzsche, não tinha, de certeza, a sua loucura, e não sofreu desse mal profundo num homem que é a impotência, como sofreu o genial alemão. Mas a sua obra não deixa de ser excelente a todos os títulos, nomeadamente pela sua dedicação ao bem estar ( que ele apelidou de felicidade) dos outros homens, a causas que, ao tempo, eram difícieis de defender e fraturantes, como os direitos dos operários, os direitos das mulheres e a defesa dos direitos dos irlandeses, a humanização da legislação, e tantas outras questões de enorme importância para a sociedade do seu tempo. Sem ser um homem de vanguarda, foi um homem de bem ao tentar, e conseguir, pelo menos em parte, melhorar a sociedade do seu tempo, nomeadamente pela sua atuação como deputado.
Creio que percebeu bem que grande parte das questões filosóficas deriva da insuficiência de conhecimentos científicos, como a segunda metade do século XX veio a demonstrar.
Por isso, muito humanamente, dirigiu as suas preocupações filosóficas para as questões da organização das sociedades.
E fê-lo de modo brilhante e, sobretudo, muito mais proveitoso para a humanidade que Nietzsche, no fundo acomodado ao domínio da aristocracia e à exaltação da vontade do poder, uma das causas da maior tragédia sofrida pela humanidade até hoje, a II Grande Guerra Mundial.
...
O EXPRESSO, o menos mau órgão oficioso do PSD, brindou-nos este fim de semana com um conjunto de textos que revelam bem a qualidade das gentes deste governo e dos governos de direita do PSD, que conseguem a proeza de ser muito piores que os do PS, o que já era uma tarefa difícil em relação aos governos de Sócrates.
A única classificação ( ainda assim benevolente) a atribuir-lhes é a de VIDEIRINHOS, MEDÍOCRES E NÉSCIOS.
1º
OS VIDEIRINHOS
Todos eles. O negócio do ensino, a Caixa Geral de Depósitos, o negócio ANGOLANO do BPN, com essa figura emblemática do PSD que é MIRA AMARAL, a nomeação do maior lambe-botas do PSD na comunicação social que é Mário Crespo, à margem de toda a legalidade e decência, e, finalmente, mas não menos importante, a questão da polícia secreta de que o PSD se prepara para tomar conta transformando-a na ponta de lança do seu aparelho partidário através do domínio dos seus boys, demonstrou até que ponto essa gente está no governo para tratar da vidinha.
Com a ajuda, claro, dos cozinheiros de serviço que são o Ricardo Costa e o João Duque, entre outros.
2º
OS MEDÍOCRES
Todos eles, também.
O seu discurso rivaliza com a cassete do PCP: todos estamos a fazer sacrifícios. Todos temos de fazer sacrifícios.
É o discurso de um governo de medíocres para um país de medíocres.
Todos estamos a fazer sacrifícios: O Passos Coelho e os seus ministros estão a fazer sacrifícios? Os administradores da Caixa Geral de Depósitos também? Os Amorim, os Soares dos Santos, os Belmiro de Azevedo, os Salgados e outros safados semelhantes que mandam os seus milhões para paraísos fiscais e, cheios de patriotismo, mandam as sedes das suas empresas para a Holanda para fugirem aos impostos portugueses, todos esses e seus familiares e amigos também estão a fazer sacrifícios?
Esses medíocres contam que todos no país são mentalmente medíocres como eles. Ou que os que não são ou são impotentes ou estão neutralizados.
Mas talvez se enganem.
Veio também ARLINDO CUNHA, um outro medíocre cavaquista, que já se considerava finado, defender no Expresso a política agrícola cavaquista e seguintes que lhe copiaram os passos.
Argumento decisivo para esse crâneo: a produção agrícola nacional aumentou 10%, desde há 20 anos para cá.
Para além da subtileza de não falar das pescas, que, como ministro, ajudou a afundar, o homem não percebe a enormidade da sua argumentação, que nem sequer é uma certeza:
ENTÃO COM OS MILHÕES QUE JORRARAM DA UNIÃO EUROPEIA PARA A AGRICULTURA ( na realidade, para alguns agricultores, para a maior parte apenas lentilhas) SÓ TEMOS UM CRESCIMENTO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA DE 10%!!!?
3º
OS NÉSCIOS
Alguns deles. O primeiro, esse putativo génio que dá pelo nome de ÁLVARO SANTOS PEREIRA.
O néscio foi dos arietes do PSD contra o TGV. O TGV estava suspenso. Agora o néscio veio dizer que o governo vai pensar.
Bem percebeu o finório Marcelo que esta atitude era uma estupidez. Mais valia dizer que a conjuntura mudou ( num mês muda muita coisa, como já se viu com o 13º mês), a Europa e a Espanha obrigam, Portugal não está só no mundo e até tem de pensar nos custos das suas exportações, cada vez mais importantes, na plataforma de Sines, etc.
E teria boas justificações para dizer que mudou de opinião.
Agora dizer que está a pensar quando todos sabem que já foi tomada a decisão de ir para a frente com o TGV, e até o subserviente Expresso o cobre de ridículo ao noticiar, na página 2 do caderno de economia, que a prioridade do TGV para as mercadorias é ponto assente.
Mais néscios do que ele só os do grupo parlamentar do PSD que se mostram estupefactos com isso.
Tão néscio como ele é esse génio da economia que é o JOÃO DUQUE, também cronista no Expresso e papagaio das televisões.
O néscio, referindo-se à persistência de altas taxas de juro do mercado para a dívida nacional, e certamente lembrando-se que ainda há dois meses garantia que bastava Sócrates cair para os juros do mercado de dívida cairem a pique, vem agora produzir esta lamúria sobre os altos juros exigidos pelo mercado, a curto prazo:
" ... como se compreende uma tal desconfiança do mercado para os prazos tão curtos."
É caso para lhe dizer: É O MERCADO, ESTÚPIDO!
A esquerda europeia, e até muita direita dos países em dificuldades financeiras, reclama a emissão de euro-obrigações europeias para ajudar os países em dificuldades a suportarem o pagamento das suas dívidas e o relaçamento económico desses mesmos países.
Excelente ideia, mas tão ingénua como excelente.
É claro que a Alemanha não está interessada na emissão de euro-obrigações. Tal implicaria uma aumento da moeda em circulação, e, com isso, a desvalorização do euro. Tal traria como consequência uma maior competitividade das economias em dificuldades. Essa maior competitividade iria pôr em causa o excedente comercial alemão, já que os países do sul poderiam voltar a ter indústrias tradicionais competitivas, exportando mais para a Alemanha e diminuindo a sua dependência do grande patrão europeu. Por outro lado, tal poderia implicar outras exigências da China dentro da Organização Mundial do Comércio, no âmbito da qual a Europa ( leia-se, Alemanha) assinou acordos comerciais altamente favoráveis para as duas potências económicas, mas que destruiram, juntamente com o euro sobrevalorizado ( este apenas no interesse da Alemanha), o tecido económico tradicional da europa do sul.
Daí o passo em frente da Sr.ª Merkl, seguido de outro passo atrás, quanto às euro-obrigações.
A Sr.ª Merkl, através do seu ministro da finanças Wolfgang Shauble ( uma personagem que parece saida do Dr. Estranhoamor, de Kubrik) sabe muito bem o que quer, e sabe muito bem manejar.
Só o medíocre Sarkozy ainda não percebeu que isso também levará a cabo a subjugação da França à Alemanha.
Quando um novo governo francês perceber isso, e puser termo ao eixo franco-alemão, que só está a beneficiar a Alemanha, então sim a Sr.ª Merkl terá pela frente uma outra Europa e não um conjunto de semi-colónias, como sucede atualmente.
Acendes a lareira com a tristeza
Das prostitutas que acendem a fogueira
À beira da estrada
Pedindo
Que alguém as venha comprar.
À noite, a fria faca da solidão
Faz-te na face
Um golpe fundo.
O sangue sai em golfadas desse golpe
Para extinguir o teu lume.
Então
Meditarás no som insolúvel
Do teu sopro.