blog filosófico, cultural e político
Domingo, 30 de Setembro de 2012
O MEU REFÚGIO

Construí no meu cérebro uma sala que é o meu refúgio. Não é como as salas perfeitas, protegidas e definitivas que todos conhecemos e habitamos, mas uma sala sem teto nem janelas, sempre aberta para o infinito. Começou por ser pequena, essa sala. Apenas metro e meio de altura, precisamente a medida que separa o homem comum do pigmeu ou do anão. Quando comecei a construi-la pensava-me a mim mesmo como um homem comum, apesar dos meus doze anos. Mas acreditava que seria capaz de construir uma sala muito mais alta do que eu mesmo. E foi assim que construí essa sala com metro e meio de altura, com paredes translúcidas e uma porta justamente da minha altura, mas tão estreita que as suas ombreiras feriam o meu peito ao atravessá-la e me provocavam cicatrizes por essa frição tantas vezes repetida.

Não era vazia essa sala. Bem pelo contrário, estava cheia de estantes que comecei a erguer na minha infância.

Adivinho já que queres saber, leitor, o que continham essas estantes. Estranharás que eu te responda - nada, porque construir estantes para conterem o nada é uma tarefa inútil,ou pior, prejudicial, pois é construir para o vazio, e o vazio é algo  a que o homem deveria ter horror, como os sábios, desde sempre, ensinaram.

 

(continua)



publicado por henrique doria às 22:25
link do post | comentar | favorito

Sábado, 22 de Setembro de 2012
É TÃO MISTERIOSO ESTAR AQUI

É tão misterioso estar aqui

E ter o cérebro trespassado por flechas

Negras e vermelhas

Nascer do baixo ventre

No mesmo lugar onde nasceu o Deus

Encarnado do amor

Morrer e ressuscitar de duas virilhas

 

Sempre

Até ao dia em que não mais

Irei

     Brincar.



publicado por henrique doria às 22:42
link do post | comentar | favorito

Domingo, 16 de Setembro de 2012
PALAVRAS

Não posso viver sem palavras. São perigosas, mas são o meu alimento. Por isso só as trinco em pequenas doses. E trago sempre nos bolsos das calças duas mãos cheias de palavras.

Mas como sou um desleixado, elas escapam-se através dos buraquinhos da sarja, ao longo das pernas. São tão ágeis que nem as sinto deslizar, rumo ao que elas pensam ser a liberdade.

Caem no chão, e eu calco-as com os meus sapatos de verniz escarlate. Esmago-as como a baratas loucas. Sinto o som da sua morte debaixo da sola: guerre-guerre-guerre.

Enfim, e para não me alongar. Há uma guerra nunca declarada entre mim e as palavras. Mas eu sinto na sua morte a minha própria morte sempre renovada.



publicado por henrique doria às 11:32
link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Junho 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

FRAGMENTO

VÊS-TE ELEITO ENTRE AS ES...

FRAGMENTO

VASOS

FRAGMENTO

O FUTURO DEVOROU O PASSAD...

FALO DAS COISAS SÉRIAS DA...

FRAGMENTO CONTRA CIORAN

UMA ESTRELA NA BOCA

FRAGMENTO

arquivos

Junho 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Maio 2018

Fevereiro 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Abril 2013

Março 2013

Dezembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

blogs SAPO
subscrever feeds