Corri sobre as águas com meus pés de basilisco
Entre o mirto selvagem e o hibisco
Fugi do meu rosto retalhado
Onde morava o belo inferno - eu
Queria ser célebre escrito com a mão direita.
Infantíl Lúcifer és ridículo
A dizer-me eu sou a vida
A cingir-me com teu azevinho
Quando no final o que está em cima é igual
Ao que está em baixo
Ambos me cingem com as suas cinzas
Morais. Mas onde está a moral
Da morte?
No céu com o seu riso farsista
Na Via Láctea?
Semeio areia dilacero-me a face
Com a faca mais fina
Pensando assim instruir-me no culto dos mortos
Porque moro no Ocidente.
Ridícula ilusão é esta invenção da arte.
Os profetas da beleza que inventaram a virgem perpétua
Hão-de afundar-se no escuro
Dentro duma caixa de madeira enfeitada
Enquanto os seus escalpes cantam pelos céus
E espalham o sangue dos seus tinteiros
Pensando aspergir-nos com água sagrada.
Os profetas que fiam com rios
Teias de orvalho amarelecidas.
Mas a destruição pelo fio infame da espada
E as muralhas cobertas com a pele dos guerreiros
Irão ser-lhe fatais.
O tempo cobrirá toda a glória
Com um mar de mármore.
E, no entanto, há o corpo.
Sim sim o corpo com o movimento do pêndulo
Sobre o outro corpo na clareira lá onde as árvores
Deram lugar à sede cheia de ondas de silêncio
O corpo em volta
O sino em volta
A nora em volta
Contínuos devorando a noite
Fendendo a água em júbilo
O corpo cintilante melodia
Orifício cantante chave do sol
Contra a passagem das horas
O corpo com a lua da alma dentro
E conchinhas róseas pedacinhos de ossos
No seu fundo-
E eu aqui a levantar a toalha do mar
Por um vértice
Eu criança junto ao barco
Na baía entre os mágnificos promontórios de cal
E o cão maior vigiando a minha severa inocência.
Sim sim o corpo com seus pés sangrando
O corpo contra o muro e o negro de fumo.
Debaixo dos pés a serpente angustiada
Labirinto errante de que Deus e o Demónio são a magestade
Falsários ensinando que dois e dois são quatro
Enquanto nos cortam o sexo com os acerados aços
Dizendo que é perfeito o terceiro número do céu.
Das asas da fénix voam labaredas
Sobre as árvores sobre o deserto sobre o Evereste
Sobre as casas de cinza
Onde à meia noite estaremos sempre
Mais sós.
Não nos deixam sonhar deitados
Sobre a nossa infância.
Ah amada - as asas da fénix são de jade
Talhado no fogo da serpente
Asas laceradas pelo sopro divino
Asas que espalham sangue sobre a minha pele
Asas de bichos da seda
Sábias a nascer do nada
Eróticas rosas saindo do incenso
Fio de sal puríssimo unindo estrela e estrela
Amor perpétuo nascido do supremo sol
Alimentando a vida até ao fim do mundo.