A cabeça desta mulher tem o ferrão do amor
Espetei um alfinete nessa cabeça de vespa
Grande vespa
Espetei-o até lhe atingir o ferrão de ouro
E então a cabeça inesperada começou
Voando-voando
Mais do que o corpo da mulher danada
Mais do que a sua sentença
Mais até do que a sua flor misericordiosa
Para cometer em mim um roubo
Inteiro
Para me transformar
Num homem grande e poderoso
Numa cidade ciosa de sol.
Dia e noite noite e dia
Me vai roubando
O seu ferrão escavando o meu cérebro
O seu veneno entrando no meu sangue
Com uma ternura cruel.
Ah mulher danada
A quem nem o mar separa
A quem a lua se deita no seu seio
A ensinar os fios do amor
A ensinar o poder do veneno
Que em sete noites fizeste
Do meu sangue um arco iris
E em oito e nove dias doidos
Fazes a minha cabeça fugir com o sol.
- A eternidade é o tempo da morte, Coriolano. Lembra-te: a cada momento a carne desprende-se dos ossos. Medita, pois, no nada que és.
Reis, ditadores, cônsules, salvadores da pátria, entre a noite e a manhã serão aniquilados. Onde está a eternidade dos reis? Onde está a eternidade do soberbo Tarquínio? Fez-se a si próprio rei. Mas onde está o seu senado, e onde a sua coroa? Apoderou-se dos bens de tantos patrícios poderosos de Roma. Mas onde estão agora os seus bens?
Educou seu filho na soberba, na violência e na luxúria. Mas esse Sexto Tarquínio que violou a casta Lucrécia, esposa do mais nobre dos romanos, não é agora mais que a podridão dentro da cloaca máxima.
Infeliz de ti que estás contente como teu orgulho. Amanhã os teus inimigos estarão fortes e os teus filhos estarão perdidos, porque como as armas dos teus filhos a tuas armas estarão quebradas. E hão de chorar amargamente, mas tu não estarás lá para os defender nem consolar o seu pranto.
Os seios abundantes da tua mãe e a sua alma forte que te fizeram erguer acima dos comuns mortais terão servido para nada.
A tua casa é feita de barro e construída sobre as águas. A água há-de tornar o teu corpo em lama, e o sol tornará em pó a lama em que te tornaste.
Então tu não serás mais que pó entre as ruínas.
As estrelas hão de obscurecer e o seu crepúsculo em vão há de ansiar pela luz. O tempo tudo tornará em noite estéril. A vida não passará duma inutilidade a que nada nem ninguém há de lançar um sequer riso de escárnio.
Cinge os teus braços, Coriolano. Cobre de cinza a tua cabeça. Já perdeste tudo o que tiveste. Já te perdeste a ti mesmo.
E tudo em ti terá sido inútil porque nunca alcançaste a humildade da sabedoria.