Como não havia de ficar louco o pobre van Gogh ouvindo todas as noites os gritos de agonia dos gladiadores vencidos para maior glória do César obeso e sedento de sangue, e os rugidos das feras atravessando os séculos, ali no seu quarto, mesmo ao lado da arena romana?
Como não ficar louco quando as prostitutas se riam da sua ejaculação precoce?
Como não ficar louco quando sentia o seu melhor amigo cada vez mais distante, como se ocupassem duas cadeiras vazias, uma humilde, a do pobre Vincent, outra rica, a de Gauguin?
Cortar uma orelha foi o sinal dessa loucura sim, mas, sobretudo, um sinal da impossibilidade do amor para Vincent.
Só o sonho nos salva, neste mundo onde o sofrimento, a injustiça e o tédio seguram sobre nós a espada constante da morte.