Ninguém com sentido de responsabilidade cívica contestará a necessidade de avaliação dos professores. Há muitos outros profissionais que há muito são avaliados ( melhor ou pior, muitas vezes pior). Todos deveríamos ser avaliados pelo nosso empenho e desempenho no trabalho, para que o país funcionasse melhor. A começar pelos governos e pelos deputados, porque estes têm o país nas mãos, e deverão constituir exemplo para todos.
Mas um dos problemas da avaliação neste país, quando ela existe, são os critérios com que é feita, raramente os melhores.
No caso dos professores do ensino básico e secundário, a actual Ministra da Educação tem em preparação ( dizemos isto eufemísticamente, porque com o espírito autoritário da ministra, o diploma já está concluído há muito) um diploma que regulamenta a avaliação do empenho e desempenho dos professores.
Numa crónica inserida na página ao lado neste jornal, o meu querido amigo Professor Vital Moreira defende esses critérios de avaliação. Pese o muito respeito que tenho pelas suas opiniões, não posso deixar de discordar delas.
O diploma contém dois itens de avaliação que deveriam ser profundamente meditados nas consequência que poderão ter no sistema de ensino.
O primeiro deles é a avaliação da componente lectiva pelos pais.
É mais que conhecida a iliteracia geral dos portugueses. E pôr um professor a ser avaliado por alguém que a única coisa que sabe, e mal, é falar de futebol ou da telenovela em curso na TVI, é não só ridículo como perigoso.
Não ignora também o Professor Vital Moreira que as agressões a professores por parte de pais e alunos tem vindo a aumentar exponencialmente nos últimos anos. Não ignora ainda que há pais que tentam comprar as notas dos filhos, que agridem os filhos de tal modo que chegam a sangrar à escola, que os violam, etc., etc., etc.
Na melhor das hipóteses há pais que não ligam aos filhos, que chamados pela escola nem sequer aparecem.
Dar a estes pais a possibilidade de avaliarem os professores, é entregarem-lhe uma espada para cortarem cerce a autoridade dos professores na escola, que é um dos fundamentos da escola democrática e de um bom sistema de ensino.
Os professores podem dar aos alunos a educação que a generalidade dos pais lhes não dá. Mas dar educação aos pais é que os professores não podem.
Por isso, a avaliação do professores pelos pais, INDISCRIMINADAMENTE, como o prevê o diploma ministerial, é gravemente atentatório na só da escola democrática como da eficácia dos sistema de ensino ( e educação).
No entanto não deixo de sugerir uma alternativa: avaliação sim, não indiscriminadamente pelos pais, mas por uma comissão por turma constituída por três pais de reconhecido mérito intelectual e moral, escolhidos para cada turma pelo conselho pedagógico.
Assim, os pais poderiam desempenhar a função de avaliação dos professores que seria útil que desempenhassem.
Outra questão na avaliação dos professores é o item em que são classificados pelo abandono escolar.
É cínico, na melhor das hipóteses, esse item, tal como vem exposto no diploma. Ignorará a Sr.ª Ministra que o abandono escolar tem raízes profundas na economia e na sociedade de liberalismo selvagem que este governo está a prosseguir?
Avaliar os professores por algo que competiria ao governo fazer é, no mínimo, cínico.
Os professores podem lutar contra o abandono escolar. Mas as taxas de abandono escolar e, até, de certo modo, de insucesso escolar, transcendem-nos em muito, e o diploma nem se dá ao trabalho de meditar sobre essas razões.
Se um dos itens fosse o empenho na luta contra o abandono e insucesso escolar, isso seria aceitável.
Mas ignorará a Sr.ª Ministra que há professores que se empenham nessa luta, e muito, mas ingloriamente? Sancionar esses professores pelo insucesso ou abandono e alunos relativamente aos quais os professores trabalharam arduamente para que tivessem sucesso ou não abandonassem a escola, embora não o conseguindo, é, no mínimo, uma grave injustiça.
Há uma sociedade moldada por quem nos governa. Há Comissões de Protecção de Menores que não têm os meios nem desempenham as funções que deveriam desempenhar para lutarem contra o abandono e o insucesso escolar.
Por favor, Sr.ª Ministra, por favor Professor Vital Moreira, não culpem os professores pelas responsabilidades de outros. E não contribuam para que outros encontrem na culpabilização dos professores um álibi para a sua inércia ou incompetência., ou, sobretudo, para as consequências para as novas gerações da sociedade que estão a construir.