A vitória de Luís Filipe Meneses nas eleições para líder do PSD pode ter constituído uma surpresa para muitos que viam no apoio das grandes figuras deste partido a Marques Mendes, a começar por Cavaco Silva, a garantia de que Mendes iria ganhar. Mas, depois dos episódios da retirada de apoio a Valentim Loureiro, Isaltino Morais, e, sobretudo, Carmona Rodrigues, com os desastrosos resultados eleitorais conhecidos para o PSD, a liderança de Mendes estava ferida de morte.
O PSD é um partido de poder, e os militantes do PSD perceberam que os pruridos morais que Mendes exibiu eram um enorme obstáculo a que o PSD regressasse depressa ao poder.
As medidas de saneamento moral levadas a cabo por Marques Mendes seriam benéficas para o país que necessita de honestidade e de rigor na governação, indispensáveis para a política e os políticos, vistos pela generalidade dos portugueses como aldrabões e todos iguais, e, a longo prazo benéficas para o PSD que poderia, em futuras eleições legislativas, invocar o grande feito de ter contribuído decisivamente para a moralização da vida política portuguesa.
Mas se isso foi compreendido pelas elites não o foi pelas bases do PSD, e estas deram a vitória a Meneses, que já tinha demonstrado não ter esses pruridos morais, por palavras e actos, a começar pela célebre estória das viagens de avião quando Meneses era deputado.
Meneses ganhou. No entanto não irá ser fácil a sua liderança - embora também não seja fácil retira-lhe o poder ora conquistado. A oposição persistente que dirigiu à liderança de Mendes irá agora ter a resposta firme das gentes do PSD de Lisboa.
Meneses poderá escolher uma de duas vias: ou negociar com os barões lisboetas e integrar-se no esquema de interesses ligados à macrocefalia da capital, ou persistir nas suas propostas descentralizadores e afrontar esses interesses.
Estamos em crer que Meneses irá escolher a segunda via, e persistirá na defesa do atenuar da macrocefalia lisboeta e da repartição do poder por todo o país como proposta essencial do PSD para o desenvolvimento nacional.
Desde logo porque, para quem sempre defendeu a regionalização, se tornaria um enorme factor de descrédito passar a opor-se à regionalização a partir do momento em que atingiu a liderança do PSD. E esse factor de descrédito poderia vir revelar-se um obstáculo decisivo para as ambições de Meneses de fazer regressar novamente o PSD ao poder.
Por outro lado, Meneses bem sabe que a sua base essencial de apoio, dentro e fora do PSD, está no Norte, e marginalizar essa base de apoio poderia significar perder o que tem, e não ganhar o que não tem, que é o apoio dos barões e bases lisboetas.
Sem querer arvorar-nos em conselheiros de ninguém, pensamos que a primeira proposta que poderia colocar Meneses como vencedor, face a um Mendes com imagem de perdedor, seria o antecipar-se ao PS e propor a realização de um novo referendo sobre a regionalização.
Mas com uma versão diferente da proposta do PS, que seria criação das cinco regiões tradicionais mais as regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto, defendidas por muitos dentro do próprio Partido Socialista, diferindo assim da proposta de criação de apenas 5 regiões que é a da direcção socialista.
Essa seria uma grande mudança na estratégia de desenvolvimento nacional que acompanharia a grande mudança no PSD que foi a vitória de Luís Felipe Meneses.