A sexualidade é o modo como a vida transformou um erro de replicação num prazer.
Henrique Dória
Vês-te eleito entre as estrelas
Mas a tua memória é um quadro negro
E os teus sonhos são novelos de neve
Que envolvem a realidade
Vento que te serve de consolação.
O mundo mudar-se-á sem ti
Passado e futuro são luz sempre
Prestes a tornar-se trevas
No horizonte das rosas.
Vieste dum buraço negro
Regressarás a um buraco negro.
Só vives porque não sabes
só sorris porque não enfrentas
O espelho da morte.
E, no entanto, salvar-te-á sempre da tua inconsequência
O acaso
De uma mão de luz.
HENRIQUE DÓRIA
O homem é a única experiência conhecida, a única que demonstrou a possibilidade da esperança.Outras possibilidades só nos podem trazer angústia.
Verónica Virgínia Vitória
Vera Vânia Vanda
Vénus Volumnia Voluptia
Vasos
Leva-os o vento
Verdes vimes leva-os o Verão
Uvas
Barcas velhas leva-as o Inverno
O uivo a neve.
Voltemos ao tempo em que a vida mudava
E era erva verde vencendo a cova
Vencendo o dia em que voltaremos à vala.
Vamos viver as aves
Vagos voos de Primavera
Vacilantes vagas.
Vamos viver a palavra vermelha
Vulva
Em voo vertiginoso sobre aviões loucos.
HENRIQUE DÓRIA
Chega-se à alma através do corpo e, depois, a alma torna o corpo glorioso.
HENRIQUE DÓRIA
O futuro devorou o passado
Transformou o sol em sombra
A rosa da manhã em crepúsculo.
Dentro de ti a árvore perdida
A água-os lábios
Choram.
HENRIQUE DÓRIA
Falo das coisa sérias da vida
Com a minha voz de criança
Jogando no ar azul
Ao pé cochinho.
Liberto-me de mim mesmo
Saltando sobre o amor e a morte
Sem lágrimas nem carícias.
Recordações semelhantes a penugem
Esvoaçam
Furacões fendem-se
Estrelas caem de amargura.
Mas só falando assim das coisas sérias da vida
O meu coração será o canto do alaúde
Para habitar um céu sem rugas.
O otimismo é a paixão dos que sabem que vão morrer.
Uma estrela na boca
Tocas-lhe com a língua
Tocas-lhe com os lábios
Tocas-lhe
Mas não podes acreditar na proximidade dos céus.
Toda a vida te há-de queimar
O teu corpo a tua alma são febre
Os outros são febre
Oh amante das estrelas.
Um dia após a Primavera da Ressurreição
Sentirás a luminosa palavra
Jorrando da fonte subtil
Vagas de línguas de fogo.
Um dia na floresta da noite
Estará nas tuas mãos
O Vaso dos Mistérios.
Nesse dia, a espada flamejante
Afundar-se-á no teu coração
Celestial, sagrada.
Só o humano é divino. O resto é mito.