Um semana passada em Amsterdão, em trabalho e laser ao mesmo tempo.
Serviu para me recompor.
Embora não me entusiasmando ( comparada com, por exemplo, S. Sebastian, outra cidade marítima, é muito inferior em beleza) dá-nos uma imagem de tranquilidade como a dá o belíssimo quadro de Vermeer, Rua de Delft.
E, depois, poder ver A RONDA DA NOITE, Rua de Delf e tanto, tanto Van Gogh, é uma felicidade.
A cidade histórica é toda muito certa, muito igual, mesmo quando nos apresenta alguns prédios em equilíbrio que parece instável. Confesso que não gosto daqueles castanhos excessivamente comuns nos edifícios. Prefiro as cores luminosas do sul, embora seja certo que a abundância de água, os canais que aguardam com serenidade que deslizemos sobre eles, assim só os haverá em Veneza.
O protestantismo empobreceu a cidade em termos de monumentos. As igrejas protestantes são pobres e tristes, em contrates com as fabulosas catedrais e igrejas do sul.
Mas há uma ar de liberdade e desprendimento de convenções em todos aqueles holandeses que percorrem a sua cidade de bicicleta com sol ou com chuva ( quase sempre com chuva) que me atrai profundamente, para além do seu individualismo.Essa liberdade está espalhada na multidão que percorre as ruas dia e noite, uma multidão estonteante e heteróclita.
Mas não já nas casas de prostituição que, significativamente, envolvem a OUD KERK, a mais antiga e creio que a maior igreja protestante de Amsterdão, onde está sepultada Saskia, a mulher de Rembrandt.
As mulheres exibem-se nas montras como gado nas feiras, esperando ( e apelando) que as vão comprar. A prostituição atinge aqui o mais elevado grau de degradação porque é sem pudor nem arrependimento.Uma degradação mútua e igual de homens e mulheres. E digo igual porque, na prostituição que se esconde considero que a degradação dos homens é superior à das mulheres.
O protestantismo exibe aqui a sua face cínica.
Mas para lá de Amsterdão, para lá da chuva e do nevoeiro, há VERMEEER, VAN GOGH e REMBRANDT. Há, sobretudo, A RONDA DA NOITE, para mim o mais belo quadro do mundo, que Rembrandt. só aceitou pintar por insistência de Saskia, cujo amor e morte ali estão lembrados.
Como em quase todos os quadros de Rembrandt, a luz vem do alto, e do lado esquerdo. Podemos ver no capitão Franz Banning Cocq, que comandava aquela milícia, simultaneamente a mão que ordena a partida daqueles homens para a ronda da noite e a mão que nos diz: aqui está, tomem esta beleza única. Na sua roupa e no seu chapéu o negro da sua alma ( era pedófilo, homossexual); na faixa vermelha que lhe atravesssa o tronco a sensualidade do seu corpo;no colar rendilhado e largo a sua vaidade. E essa mesma vaidade envolve todo o corpo do seu lugar tenente.
Ou será a serenidade deste que nos impressiona no meio do velado dramatismo do quadro?