blog filosófico, cultural e político
Quinta-feira, 9 de Junho de 2005
PARA UMA REFORMA DO ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO
Apresentei num Congresso, em tempos, uma proposta de reforma do ensino básico e secundário, na qual propunha que as crianças e os jovens permanecessem na escola pública entre as 8,30h e as 18h, com aulas em metade do tempo, e estudo apoiado por professores na outra metade.
Como medida complementar desta, propus também a redução do número de disciplinas para seis, no máximo, entre a primeiro e o sexto anos, e para dez entre o sétimo e o décimo segundo. Quanto aos anos do sétimo ao décimo segundo, deveriam ser oito as disciplinas obrigatórias: Português e Matemática, que seria o núcleo essencial, por razões óbvias, com quatro aulas semanais. Como segundo núcleo, História e Geografia, para que os alunos aprendessem a situar-se no tempo e no espaço, e, depois, uma língua estrangeira, Física-Química, Ciências da Natureza, Informática e Educação Física. Este segundo núcleo teria uma carga semanal de três aulas. Além destas, deveria haver mais duas disciplinas de opção, que constituiriam um terceiro núcleo, dentro de um leque em que estariam Educação Artística, Educação Musical e Educação Cívica, incluindo nesta a área de educação sexual. O terceiro núcleo teria uma carga semanal de duas aulas.
Todas as aulas teriam cinquenta minutos.
Estas medidas teriam, desde logo, cinco vantagens, entre muitas outras:
1ª Afastar os alunos do contacto absorvente com o mundo fácil da imagem (agora, até os livros de Matemática estão cheios de imagens!) incutindo-lhes a prática do esforço, da memorização e da abstracção, essenciais a qualquer processo de aprendizagem.
2ª Proporcionar-lhes uma ocupação acompanhada do tempo fora de aulas já que, a maior parte deles, saindo das aulas vai para casa ou para a rua, onde fica ao abandono até que os pais regressem do trabalho.
3ª Proporcionar uma adaptação do horário escolar ao horário de trabalho dos pais.
4ª Reduzir o número de disciplinas que chega ao absurdo de serem quinze.
5ª Afastar as crianças e os jovens dos maus convívios e do consumo de drogas, já que, depois das aulas, iriam para casa, onde teriam a companhia dos pais.
Não me parecem decisivos os argumentos de falta de instalações para isso. A limitação do número de disciplinas libertaria salas. Por outro lado, o estudo apoiado poderia concentrar numa sala não só vinte e cinco alunos ( a média dos alunos numa turma) mas trinta e cinco ou quarenta alunos, nalguns casos até mais, desde que houvesse uma boa adaptação das salas às necessidades, o que nem sempre acontece.
Parecem ir neste sentido as recentes propostas da Ministra da Educação. Mas bom seria que fossem totalmente postas em prática já que, em meu entender, poderão acabar com a enorme falta de qualidade do nosso ensino básico e secundário.
Nota: este artigo é o resultado da reflexão feita sobre um anterior publicado neste blog. Sugiro um debate sobre o tema aos visitantes do Odisseus.
De Anónimo a 12 de Junho de 2005 às 17:40
Caro Henrique, tenho andado numa redoma viva, por isso não tinha ainda lido o teu artigo. Vejo que tens como eu vontade de ver o ensino a mudar e sinto que tens atrás de ti o apoio inestimável da experiência. Contudo, não somos consultados e qualquer mudança cabal do sistema de ensino tem de partir de nós, em amplo debate com os sindicados, as Direcções regionais e as associações de pais. Não é o que se vÊ. Estes governos últimos aparam as imperfeições com cortes a eito, sem olhar a quem visam, a quem prejuducam, a quem descriminam. Escrevi um artigo sobre o que é para mim a escola ideal. Chamei-lhe: A Utopia Possível. Gostava que o lesses. Curiosamente, encaixavam na perfeição o teu e o meu modelo. Eu só quero roubar-te uma s horitas para serviço cívico. De resto, concordo com tudo que dizes e se alguma resistência vier e virá, ela é só e tão só, da falta de vontade de mudar que as pessoas registam ao fim de anos e anos de habituação a um esquema certinho. Se não houver espaços, as cÂmaras que os forneçam. Se não houver isto ou aquilo,sentemo-nos a pensar em como reverter a situação. O problema, Henrique é que não há vontade, nem coragem de imprimir mudanças radicais! Assim, tudo continua no mesmo marasmo e eu andaraei ad eternum a agitar as escolas por onde passo, a mobilizar
os que ainda estão vivos, e são muitos, sem plantar numa só a sementinha da mudança! Respondo-te no meu blog com o artigo que escrevi no Voz das Beiras de 30 de Junho, creio. Obrigada por me dares essa oportunidade. Como se faz chegar um Projecto à Assembleia da República? Se quiseres ir mais longe, conta comigo!
Lib
(http://oblogdalibelua2.blogs.sapo.pt/)
(mailto:libelua@sapo.pt)
De Anónimo a 10 de Junho de 2005 às 23:58
Caro Henrique, acho as tuas propostas e a sua fundamentação muito pertinente. Contudo, na qualidade de dirigente sindical, tenho visitado escolas do 1º ciclo em que seria impossível implementar as medidas preconizadas (o próprio Ministério da Educação já chegou um pouco a esta conclusão depois de um levantamento de resursos físicos que tem vindo a efectuar). No país real que não se limita a grandes cidades como Lisboa ou a locais quase desertificados onde as escolas têm poucos alunos, há escolas do 1º ciclo que, por falta se salas, têm 3 tipos de horário de forma a rentabilizar o espaço ao máximo - só manhã, só tarde e o horário dito "normal" (manhã e princípio da tarde). Com tal diversidade, será difícil levar reformas a cabo sem provocar desigualdades entre alunos, e isso não se pode admitir num país dito democrático!
Um beijo e bom fim de semanaPink
(http://shrineofhypnos.blogspot.com/)
(mailto:the_pink_lady@sapo.pt)
De Anónimo a 9 de Junho de 2005 às 23:23
Olá Henrique
Presumo que sejas docente e estejas vivamente empenhado na função e preocupado com o sistema de educação em Portugal.
Toda a gente estará de acordo em parar com a sucessão de reformas, uma para cada titular do Ministério.
Quando à reformulação dos horários, reduzindo a sua duração, diminuindo o número de disciplinas e promovendo sessões de estudo durante a tarde, desde 14h00 até às 18h30, não me parece mal. Sobretudo para scalões de idade até aos 15 anos. Para os alunos de idade superior a motivação para ocupação do tempo deveria ser outra para evitar que anseiem sair do recinto da escola para fazer a seguir o que lhes apetecer. Quanto à luta contra a omnipresença da imagem, o melhor é aderir à corrente uma vez que jamais será vencida.
Não deixa de ser curioso que -- eu pelo menos tenho essa sensação! -- até terminar o 12 ano, muitos alunos, mesmo muitos, têm um ódio tremendo à escola; uma vez na faculdade, deleitam-se com o ambiente, com as aulas, com o convívio. Haverá uma razão para isso. Haverá seguramente uma explicação para esta adesão e uma outra para aquele ódio e repulsa.
Um abraçãoJose Duarte
(http://melnofrasco.blogpost.com)
(mailto:josepduarte@clix.pt)
De Anónimo a 9 de Junho de 2005 às 12:06
Amigo Henrique, abordas-te um tema que de simples de resolver não tem nada. O nosso País saiu de um sistema de ensino baseado na disciplina (Repressão) e na descriminação, mas contudo haveria algum interesse em transmitir conhecimentos, para passarmos gradualmente à descoordenação do ensino nos primeiros ciclos. Claro que este egocentrismo que está cimentado nas nossas mentalidades é transversal a toda a sociedade, e o ponto que tocas é o cerne da questão a imagem, há uma obsessão nacional pela imagem. A primeira medida que tomaria é uma campanha nacional de sensibilização aos professores sobre Formação Cívica; Problema da Info Exclusão; Vocação; Empenho; Cidadania; Republicanismo; etc.. Proponho-te que abras um Blog sobre o assunto, creio que há muito a escrever sobre o assunto, no entanto é urgente começar desde já a trabalhar na Pedra Bruta. AbraçoRui Pinto
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(mailto:ruipinto@oninet.pt)
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