blog filosófico, cultural e político
Sexta-feira, 30 de Abril de 2004
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O corpo, imensamente pequeno, só ganha sentido no espírito, imensamente grande. Mas ambos são continente e conteúdo.
Quinta-feira, 29 de Abril de 2004
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Ao contrário do que escreveu Agustina Bessa Luís, nada há de mais revolucionário do que a verdade, porque só as novas verdades têm força para destruir as antigas verdades.
VITÓRIA- de LUCIO FONTANA
Domingo, 25 de Abril de 2004
LIBERTAÇÃO DE ABRIL
Sempre tivemos fé.
Mas as baleias contorciam-se
No abismo
Por um parto que parecia de séculos.
Com o tempo
O negro de fumo estava
Colado ao dia-
Difícil encontramos o estilete de aço
Que o viesse raspar.
Sinceramente-
Eu não acreditava que o berço humilde
Do meu primeiro filho
Que estava a querer passar da água
Para a luz
Já não tivesse grades.
E- no entanto- havia um grito
No círculo negro deste país perdido.
Às sete da manhã
A mulher interrompeu o meu frente a frente
Com o espelho
Para me anunciar-há uma música estranha
A circular pelas ruas.
Será que vamos nascer de novo
E o filho recém-nascido vai assistir
Ao nosso próprio parto?
De um salto
Coloquei no máximo o som da telefonia
E ouvi-passos-passos-passos- em unísssono.
E ouvi a voz daquele que nunca deveria ter morrido
Cantar - TERRA DA FRATERNIDAADE.
Acreditei então-
Chegado está o dia em que se abrem as águas
Porque iam em frente esses passos
E eram levados pelas asas
- Vermelhas da Liberdade
HENRIQUE DÓRIA- feito na manhã de 25 de Abril de 2004
Montanha Azul-Kandinsky
O ÚLTIMO SÉCULO ANTES DO HOMEM (fragmento)
Desciam as encostas,andrajosos,com velhas espingardas
sem pão no bornal, sem balas.
Só torrentes fogosas fechavam a passagem atrás deles.
Durante meses tinham marchado por cima de pedras desconhecidas,
sobre neve, em companhia das suas oliveiras e vinhedos
-um deixara lá uma perna ou um braço,
o outro um pedaço de alma,
cada um deles um ou vários mortos.
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Relógios parados. Os ponteiros do carrilhão da catedral caíram
como duas traves calcinadas-não se ouviu o choque.
Ele gritava na rua: "Depressa! Despacha-te!"
O outro corria atrás dele: "Espera!" Um candeeiro na esquina.
E o painel de sinalização, estranho, indeciso,
quase inadmissível - grandes letras
bastante firmes, algo afectadas: "EM DIRECÇÃO AO SOL".
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Sob o candeeiro distinguia-se mais nitidamente o painel crivado de balas
"EM DIRECÇÃO AO SOL". Ele próprio não olhava
-reticente e como que culpado. Não eram as letras que ele tinha desenhado? Poder-se-ia jurar.
E era como se o apontasse, pois propositadamente evitava olhá-lo.
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E o painel, um rectângulo de madeira, nada mais, dizia ele, nada mais,
no cruzamento em baixo: " EM DIRECÇÃO AO SOL". Depois de amanhã
quando desfilarem ao sol com as suas bandeiras e os seus utensílios
pode acontecer que alguém se detenha e pergunte:
"Quem fez este painel com letras tão incipientes?"
e que outro se recorde, e então responda:
"Yannis Ritsos, poeta do último século antes do Homem."
YANNIS RITSOS
Domingo, 18 de Abril de 2004
O Mundo como Vontade
Tão próximos e tão distantes dois seres como Nietzsche e Schopenhauer.
Citamos Nietzsche:
"Quereis um nome para este mundo? Uma solução para todos os enigmas? Este mundo é a vontade de potência e nada mais."
E Schopenhauer:
"O esforço sem fim nem descanso em todos os graus de objectividade em que o mundo consiste; as múltiplas formas sucessivas em gradação; a manifestação total da vontade; e, finalmente, as formas universais dessa manifestação, tempo e espaço, e também a sua última forma fundamental, sujeito e objecto, tudo fica abolido. Nem vontade, nem ideia, nem mundo. Temos perante nós apenas o nada."
Para Nietzsche, o sexualmente impotente, o que nunca conseguiu consumar o seu amor a Lou Andreas Salomé, o mundo, o homem consagra-se no triunfo da vontade.
Para Schopenhauer, o misógeno, o mundo e o homem consagram-se na anulação da vontade.
Para ambos, no horizonte do tudo está apenas o nada.
Em Nietzsche, o que na realidade existe é o amor impotente. Em Schopenhauer, o amor ausente.
De ambos está tão distante e tão próximo S. Francisco de Assis. Mas nele a vontade consagra-se como o triunfo do amor divino através do amor às manifestações da criação que são o homem, a natureza e o universo. Francisco de Assis não só amou o outro como a si mesmo, mas todas as criaturas como a si mesmo.
A santidade de Francisco de Assis impõe-se mesmo para nós, os que não acreditam em Deus.
Pacheco Pereira contra Domingos Lopes
No seu blog "abrupto", Pacheco Pereira tenta desesperadamente defender a cruzada empreendida por Bush e os seus acólitos. Como sabemos que Pacheco Pereira, além de estar bem informado sobre o presente, também conhece a História, os seus comentários a Domingos Lopes apenas revelam um cinismo desesperado em defesa da mentira. E a referência final ao passado de Domingos Lopes revela também quanto persistem os tiques maoistas de Pacheco Pereira: quem discordava do grande lider era expulso da organização com a justificação de que tinha roubado a policopiadora.
Sábado, 17 de Abril de 2004
Cantico di frate Sole
Laudato sie, mi’ Signore, cum tucte le tue creature,
spetialmente messor lo frate sole,
lo qual’è iorno, et allumini noi per lui.
Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si’, mi’ Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l’ài formate clarite e pretiose et belle.
Laudato si’, mi’ Signore, per frate vento
et per aere et nubilo et sereno et onne tempo,
per lo quale a le tue creature dài sustentamento.
Laudato si’, mi Signore, per sor’aqua
la quale è multo utile et humele et pretiosa et casta.
Laudato si’, mi’ Signore, per frate focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
ed ello è bello et iocundo et robustoso et forte.
Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra matre terra,
la quale ne sustenta et governa,
et produce diversi fructi con coloriti fiori et herba.
S. FRANCISCO DE ASSIS
Quinta-feira, 15 de Abril de 2004
Francisco de Assis Pregando às Aves, por GIOTTO