blog filosófico, cultural e político
Sábado, 25 de Fevereiro de 2006
TANKA
Toco a paciência
Terna dos teus olhos boi-
São a dolorosa
Nora-a luz da minha infância
Onde o mar da alma foi.
HENRIQUE DÓRIA - Tanka
Sexta-feira, 24 de Fevereiro de 2006
ESPANHA
A Espanha de hoje trivializou-se, tornou-se um país mole.Já não é o país dos grandes santos nem dos grandes ateus. O último "santo" que produziu, o cura Escrivá, é uma caricatura de santo. Um confessor e acólito de banqueiros promovido a santo por uma Igreja ávida de fabricar santos.Os grandes ateus também os não tem já Espanha, depois da morte da Pasionaria.
O ardor espanhol desapareceu, desfez-se nas noites da chamada "movida", onde os espanhóis adoptam o consumismo como uma voluptuosidade fraca.
Tudo se passa sem paixão nem sofrimento, estados de alma que esta sociedade de bem estar dispensa.
Em Espanha, Saturno já não devora os próprios filhos, como Goya pintou no seu quarto. Limita-se a anestesiá-los para sempre.
HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos
Sábado, 18 de Fevereiro de 2006
COM O INVERNO CHEGOU O SILÊNCIO
Com o Inverno chegou o silêncio
E com o silêncio-vendado
Partiram os olhos
As duas rolas
O pássaro-cantor
E, sim, os luminosos lábios
Que hás-de sentir mesmo sobre a fronte fria
Os olhos iriam fazer um vinho
Acidulado e fresco
As rolas uma cabana sem céu
O pássaro-cantor um oboé voando sobre as águas.
E a tua alma nadadora foi
De ilha em ilha
Sempre na cinza do seu rasto.
HENRIQUE DÓRIA-Mar de Bronze
Domingo, 12 de Fevereiro de 2006
CHAGALL-Dia de Chuva
HABITAS DUAS CASAS
HABITAS DUAS CASAS, tu, Eterno, in-
habitável. Por isso
nós construímos e construímos. Por isso
ela aí está, esta
pobre camarata,-à chuva,
aí está ela.
Vem, amada.
Deitemo-nos aqui, esta
é a parede divisória-: Assim
ele tem que chegue de si próprio, duas vezes.
Deixa-o, ele
que se tenha por inteiro, como metade
e mais outra metade. Nós,
nós somos a cama de chuva, ele
que venha e nos mude a roupa
.............................
Ele não vem, não nos muda a roupa.
PAUL CELAN- Rosa de Ninguém
Sábado, 11 de Fevereiro de 2006
CENSURA RELIGIOSA
Segundo a opinião de Freitas do Amaral e do Grupo Parlamentar do PS, terá de haver muito cuidado com a publicação de textos e caricaturas. Felizmente os parlamentares do PS não leram OS LUSÍADAS. Se tivessem lido, correríamos o risco de futuras edições de OS LUSÍADAS virem censuradas.
Dou uns pequenos exemplos:
1º
"A nau da gente pérfida se enchia"
2º
"Oh! pérfida, inimiga e falsa gente"
3º
"Do falso Mahamede ao Céu blasfema"
4º
Ó míseros Cristãos....
...
Não vedes a divina Sepultura
Possuída de Cães...
5º
"...o vicioso
Maoma...
6º
"Em forma de Profeta falso e noto
7º
"...da torpe Seita,"
8º
"»Medina abominabil..."
Etc.Etc.Etc.
Não menos espantosa foi a conclusão do senhor deputado que foi porta-voz do PS para a questão: concluiu que o autor das caricaturas e os assassinos e incendiários muçulmanos estavam "bem uns para os outros".
Dispensam-se comentários para tal conclusão.
Repito o que antes já escrevi: o que se está a passar com alguns fanáticos muçulmanos é puro fascismo. É puro crime.Como tal deve ser tratado e não como uma questão religiosa.
E abdicar da defesa da liberdade e ter complacência com os piores criminosos ( note-se que eles matam quem nada tem a ver com as caricaturas), é traição.
Quinta-feira, 9 de Fevereiro de 2006
TANKA
Somos tudo e nada
Quando pensamos o mundo
E o amor que traga
A morte e com ela a vaga
Que nos levará ao fundo.
Poema de 5-7-5-7-7 sílabas acabado agora de escrever, respondendo a um desafio de alguém que ama a vida e sabe da existência da morte.
Revoltante
É revoltante ver como os dirigentes ocidentais abdicam perante o fascismo islâmico. Como Chamberlain abdicou em Munique perante Hitler.
Domingo, 5 de Fevereiro de 2006
EL HOMBRE TRISTE
Lloran voces sobre mi corazón...
No más pensar en nada.
Despierta el recuerdo y el dolor,
Tened cuidado con las puertas mal cerradas.
Las cosas se fatigan.
En la alcoba,
Detrás de la ventana donde el jardín se muere,
Las hojas lloran.
En la chaminea languidece el mundo.
Todo está obscuro,
Nada vive,
Tan sólo en el ocaso
Brillan los hojos del gato.
Sobre la ruta se alejaba un hombre.
El horizonte habla,
Detrás todo agonizaba.
La madre que murió sin decir nada
Trabaja en mi garganta
Tu figura ilumina al fuego
Y algo quiere salir.
El chorro de água en el jardín.
Alguien tose en la otra pieza,
Una voz vieja.
Cuán lejos!
Un poco de muerte
Tiembla en los rincones.
VICENTE HUIDOBRO
DALI - Eu mesmo