Sem dúvida que o actual governo de José Sócrates deu um passo gigantesco para que eficiência do sector público fosse maior. No entanto, os passos dados no que toca à função pública ultrapassam em muito a necessidade de promoção do zelo e da competência.
Gerou-se um clima de insegurança na função pública, facilitaram-se os contratos a prazo, aumentaram os recibos verdes, tornaram-se possíveis os despedimentos sem justa causa criando-se um quadro de excedentes.
Com isso, os funcionários públicos vivem num clima de medo e angústia pelo seu futuro. E esse medo gera a subserviência, que é o contrário da liberdade, e permite os abusos de poder que por aí pululam cometidos por comissários políticos, tanto quanto possível incompetentes.
Mas mais: encorajadas pelo exemplo do governo, as confederações patronais pedem já que se retire da constituição e das leis do trabalho a proibição dos despedimentos por motivos políticos ou ideológicos.
Isto é: as confederações patronais incapazes de realizarem a sua própria reforma e aumentarem a sua produtividade, e encorajadas por um poder político conformado como o ex-ministro Silva Lopes que dizia que temos de viver com os empresários que temos, já não se contentam em manter os baixos salários, querem também controlar a consciência e a liberdade dos seus empregados.
Por isso, e apesar de alguns, compreensíveis, exageros, bem levantou a voz Manuel Alegre porque bem é necessário haver uma voz que se erga contra o medo.
E não uma é voz qualquer, daqueles que se estivessem no poder fariam o mesmo ou ainda pior, e quando lá estiveram fizeram algo de parecido. Mas uma voz de quem sempre teve a coragem, mesmo nos piores momentos de opressão que o país sofreu, de vir para a praça pública defender alto e bom som a liberdade.
Uma das frases de Manuel Alegre em que o Primeiro-Ministro José Sócrates deveria meditar é esta:
“Os principais inimigos dos partidos políticos são aqueles que, dentro deles, promovem o seu fechamento e impedem a mudança e a abertura.”
É precisamente isto que o governo do Partido Socialista está a fazer.
Mas poderia também dizer Manuel Alegre: os principais inimigos da povo português são também aqueles que pretendem controlar a sua liberdade de consciência.
Chegou-nos a noite com a primeira luz?
Que deus nos colocou vela e cinza
Sobre a fronte fértil?
Se morremos já em tudo o que perdemos
Em que neve havemos de morrer?
Ah! atravessaremos o céu sobre cavalos turquesa
A sombra mordendo sempre o nosso flanco.
HENRIQUE DÓRIA- Escadas de Incêndio