Há-de ser enterrado vivo
O meu coração azul
O meu coração esponja
Do vento que leva a beleza
Das mulheres
O meu coração contrabando de estrelas
E caçadores noturnos.
Há-de ser enterrado com as marés
E os pedacinhos de ossos
O meu coração alto
A iluminar as águas
O meu coração candelabro
Longe da margem
O meu coração fogo e véspera
Voadora que passa pelo
Mundo como uma centelha.
Há-de ser enterrado no céu
O meu coração aéreo
O meu coração insensato
Bilha recolhendo o raio
Sempre pronto a explodir
A incendiar o meio dia a casa
Cão maior ladrando à lua
A algo a perder de vista, à vida
Desordem sobre os sinos
Debaixo do bronze e dos estigmas
Cisne no horizonte
Iludindo-se a si e a mim
Com a sua língua louca.
Há para aí um blog que tem o atraente nome de A ARTE DA FUGA, onde pontificam clérigos do liberalismo económico. Cheguei lá atraído pelo nome, que me surgiu a partir do blog da Irene Pimentel. Parece, pelo título, gente desempoeirada. Mas é só a máscara da fantasia, porque está ali, como no BLASFÉMIAS e blogs semelhantes, a nudez da verdade do mais atávico conformismo com tudo o que está mal neste mundo, a começar pelo poder do dinheiro.
E sobre um texto em que eles zurziam na intervenção do Estado na economia, escrevi lá este comentário:
Acho que sim, que bom bom é o Estado não chatear estes patrões, deixá-los roubar o que resta à vontade, como roubaram os milhões que vieram a Europa entre 85 e 95. Pode ser que com o dinheiro assim roubado consigam tirar uns cursuzitos nas Novas Oportunidades para aproximarem o seu nível do dos seus empregados. E, depois, com o Cavaco à frente, vão fazer caridade e dar mais uma sopa aos pobres.
Estes voltarão a cultivar A ARTE DA FUGA para o estrangeiro como o fizeram nos anos 50 e 60 do salazarismo de boa memória.
Entretanto, outros praticarão ARTE DA FUGA como o fez Pinochet quando não deixava o Estado intervir na economia: intervinha ele para fazer fugir o dinheiro do Chile para as suas contas no estrangeiro. E os senhores do BPN e do BPP, igualmente peritos na ARTE DA FUGA, com os temas e variações que nós sabemos.
Infelizmente, não há ARTE DA FUGA que faça fugir gajos assim deste país - e deste mundo.
E Cavaco anuncia o regresso de novos mestres na ARTE DA FUGA.
Parece que a malta daqui espera um bancozito para praticar A ARTE DA FUGA num cravo bem temperado.
Como pessoa muito inteligente e liberal que é, com toda a certeza, o homem da ARTE DA FUGA escreveu este comentário ao meu comentário:
deixe-se de baboseiras.
Mas eu não deixei, teimoso que sou.
E vai daí escrevi-lhe que:
Os maus resultados da intervenção do Estado na economia estão espelhados nos países nórdicos, países do mundo onde a intervenção do Estado na economia é maior, e com os mais elevados impostos do mundo. Como toda a gente sabe, com esta política desastrosa, os países nórdicos são os menos livres, mais miseráveis e infelizes do mundo.
Pelo contrário, o Chile de Pinochet, onde a liberalíssima Escola de Chicago levou a liberdade para escolher e a minimização da intervenção do Estado na economia às últimas consequências, como toda a gente também sabe, tornou o Chile num paraíso de liberdade, bem estar geral, e felicidade.
A isto o liberalíssimo escrivão da ARTE DA FUGA afirmou que eu era um troll, e que que iria apagar, doravante, todos os meus comentários.
E apagou mesmo.
Confesso que achei piada a chamarem-me troll. Pela primeira vez na vida me senti NA CAVERNA DO REI DA MONTANHA ( talvez o dito liberal saiba o que é isso).
E achei ainda mais notável a inteligência e o amor à liberdade do tal escrivão.
Com gente assim LIBERALÍSSIMA no poder, bem poderemos começar a praticar A ARTE DA FUGA para o exílio, que é a única arte que nos será permitida em alternativa à prisão.
O descaramento dos nosso patrões ( patrões sim, porque empresários temos poucos, embora a coisa esteja a melhorar) é notável.
E o descaramento de Cavaco, choramingando lágrimas de crocodilo sobre a miséria que grassa no nosso país, não menos notável.
Estes patrões que lutam contra o aumento do salário mínimo para 500 euros, e pedem facilidades e para pagar menos nos despedimentos, foram exatamente aqueles que ROUBARAM e DESBARATARAM os milhões que nos foram dados pela União Europeia, desde 1985,e que teriam permitido que gente capaz e honesta tivesse feito um país muito melhor do que ele é.
Portugal é dos poucos países do mundo onde os patrões são menos qualificados que os empregados, como o demonstram todos os estudos. E os que não obtiveram para si próprios qualificações, roubaram e desbarataram, têem ainda a lata de clamar contra quem trabalha por conta deles ou do Estado.
A palavra árabe cabrão, deu na língua portuguesa patrão. Para quantos patrões não é apropriada esta riqueza semântica!
E o cara de pau Cavaco, que permitiu, durante o seu mandato como primeiro ministro, que esses milhões recebidos ( a pimenta da Índia e o ouro do Brasil do século XX) fossem roubados e desbaratados, muitos deles pelos que o rodeavam, e que ainda não deu uma palavra sobre o salário mínimo nacional, vem agora choramingar contra a pobreza lágrimas de crocodilo.
É PRECISO TER LATA!
Tuttomondo-Keith Haring
Nos longínquos anos 90, num congresso do PS, apresentei uma moção setorial sobre educação. Nela propunha o que veio, em meados desta primeira década de 2000, a ser adotado: o estudo acompanhado. A proposta era mais vasta: implicava um maior tempo de permanência dos alunos nas escolas, p.ex., bem sabendo que os pais, na sua maioria esmagadora, se demitem do dever de educar.O conceito foi discutido, a moção aprovada por uma pequena maioria ( foi das poucas submetidas a votação)e a ideia foi posta em prática mais tarde.Não descobri a pólvora. Certamente que alguém, antes de mim, teve a ideia. Só que não conheço outra proposta, antes da minha, em qualquer congresso de qualquer partido. Mas o resultado da medida está à vista.
Abandonei o PS porque não passa de um partido captado pela gente da Mota/Engil, do Ricardo Salgado, do Belmiro de Azevedo e companhias. Mas não deixo de considerar que o caminho das aulas de substituição ( embora não exatamente nesta versão posta em prática pelo ME de Sócrates) e do estudo acompanhado é um bom caminho - o único capaz de retirar o país do conservadorismo e da ileteracia atávica em que sempre viveu.
Bebe o puro fogo
Aquele que consome o bosque
E os aloés.
Morde a água
Aquece-te no vento e na tempestade
Oferece à montanha o coração
Caído.
Incendeia-te no vinho do deserto
Que veio com o maná da noite,
Voa
Com o teu vestido branco
E o teu cinto vermelho
Constrói a abóbada celeste.
Enche-te de estrelas
E de pérolas
Até ao horizonte.
Descobrirás assim o teu anjo
Aquele que te guarda as portas da dor
E do paraíso.