blog filosófico, cultural e político
Domingo, 30 de Outubro de 2011
PAÍS A DOSES DE CAVALLO - E OS BURROS SOMOS NÓS?

               

 

( artigo publicado no semanário GRANDE PORTO, de 28.10)

 

Para se compreender a política deste governo é necessário conhecermos um argentino, Domingo Cavallo. Cavallo foi apontado pelos ministros das finanças, Vítor Gaspar, e da economia, Santos Pereira, como o seu mentor. Doutorou-se em Harvard, e foi professor na Universidade Católica de Córdova. Fez parte do governo da Junta Militar argentina no criminoso Ministério do Interior. Em 1982 foi nomeado Presidente do Banco Central argentino. Tomou, então, a sua principal medida: nacionalizou grande parte da dívida externa das empresas privadas argentinas.

 

Após a queda da Junta Militar, fez parte do governo do corrupto presidente Menem, entre 1989 e 1996, nós últimos cinco anos como Ministro das Finanças. Conseguiu controlar a hiperinflação, fazendo equivaler o peso argentino ao dólar, à razão de 1 para 1. Privatizou as grandes empresas estatais argentinas: água, correios, etc.. A Argentina teve um bom crescimento económico nos anos imediatos. Porém, esta política foi desastrosa para os mais pobres, agravando as desigualdades sociais e originando um desemprego de cerca de 20%. Por outro lado, as privatizações foram conduzidas com um tal grau de corrupção que se tornaram escândalo nacional. Cavallo denunciou essa corrupção mas não se demitiu. Porém, reeleito Menem em 1995, em 1996 este dispensa-o.

Nessa altura, era claro que a terapia de Cavallo já não funcionava: a alta do dólar levou a enormes dificuldades competitivas da economia argentina, o que tornou a dívida pública insustentável, apesar da baixa generalizada dos salários dos funcionários públicos e dos despedimentos massivos. Com a economia em retração, as receitas diminuíram. E tudo isso levou a uma quebra no investimento e a fuga de capitais, crescendo as taxas de juro. A partir de 1999, a Argentina entrou em depressão e, em 2001, o presidente De la Rua chamou Cavallo para ministro da economia. Este pretendeu impor novamente a receita neoliberal: despedimentos e baixas de salários. Mas tal não resultou: aumentou a descrença na economia e a fuga de capitais, fuga esta que Cavallo pretendeu combater através do corralito, impedido a movimentação de depósitos bancários. Gerou-se o caos na Argentina com a população em desespero a saquear lojas e supermercados.  Dela Rua declarou o estado de sítio. Cavallo demitiu-se, seguido do presidente, que se pôs em fuga para não ser linchado pela multidão. Hoje, Cavallo não pode regressar à Argentina sem ser fortemente escoltado, tão grande é o ódio que lhe vota o povo argentino.

 

O argumento de Cavallo para as suas medidas era o mesmo que hoje se utiliza: ou isto ou o caos. Mas o governo do Presidente Kirchner, que tomou posse em 2003, demonstrou que não era assim: com medidas contrárias às de Cavallo, a Argentina entrou num sustentado crescimento económico  e a pobreza diminuiu drasticamente.

 

Cavallo, agora professor nos EU, reconheceu o falhanço da sua política, em 2010, ao pronunciar-se sobre a dívida da Grécia. Escreveu sobre a crise argentina:

 

“A nossa primeira resposta veio na forma de uma série de medidas destinadas a criar confiança e ganhar competitividade, mas elas não foram suficientes. A nossa segunda resposta veio na forma de um plano de consolidação orçamental que incluía a redução de salários do setor público e das pensões. Mas, tudo isto provocou um agravamento da recessão e o exacerbamento das tensões sociais.”

 

Se assim é, porque persiste este governo em fazer de nós burros, aplicando medidas que o próprio Cavallo reconhece que não resultaram?

Porque Gaspar e Pereira são burros?

Não, eles sabem o que fazem, eles são muito pior do que isso.

 



publicado por henrique doria às 07:43
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Sábado, 22 de Outubro de 2011
AMO A PALAVRA QUE ARDE

 

Amo a palavra que arde

Na morte            

 

Do coração da tarde.



publicado por henrique doria às 09:25
link do post | comentar | favorito

FRAGMENTO

 

Sem dúvida que nascemos das águas: o sexo da mulher cheira a peixe.

 

HENRIQUE DÓRIA - Fragmentos



publicado por henrique doria às 09:23
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

FRAGMENTO

 

 

As cúpulas das igrejas teem a forma dos seios das mulheres.

É a face celeste do amor nesse culto assente no mistério do nascimento de Deus do  ventre duma virgem

 

HENRIQUE DÓRIA- Fragmentos



publicado por henrique doria às 09:16
link do post | comentar | favorito

Sábado, 15 de Outubro de 2011
IMPERDOÁVEL: ELES SABEM O QUE FAZEM

                       

Estamos a assistir ao maior atentado ao estado de direito levado a cabo em Portugal depois do 25 de Abril e, em simultâneo, a uma monstruosa manipulação da informação levada a cabo pelos poderes político e económico.

Argumentando com num suposto desvio colossal do défice das finanças públicas veio o governo anunciar o corte dos subsídios de férias e de Natal na função pública para os anos de 2012 e 2013.

Para além da falsidade da justificação da medida, não só porque Passos Coelho e a TRALHA que o rodeia tinham participado na elaboração do orçamento para 2011, mas também porque o ministro da finanças era um dos administradores de topo do Banco de Portugal, um facto ressalta aos olhos de todos: então só a função público é que é afetada? E porque o não são afetados os trabalhadores do setor privado, incorrendo o governo no risco de ver declarada inconstitucional a lei do orçamento por flagrante violação do princípio da igualdade?

Sobre isso o primeiro ministro na sua trágico-cínica comunicação ao país nada disse, nem o disseram os seus ministros.

Mas disse-o um dos doutores em economia que pululam nas nossas universidades (e muitos passam destas para o governo, e do governo para os grandes negócios), um tipo que dá pelo nome de JOÃO MIRANDA, no seu blog BLASFÉMIAS. Escreveu esse GÉNIO que não conseguiu conter-se e revelou o jogo do governo no dito blog, sob o título A MÃE DAS REFORMAS ESTRUTURAIS:

 

Não faz grande sentido pedir reformas estruturais no dia a seguir ao governo anunciar um corte de 15% nos salários da Função Pública (que se soma a um corte de 5% a 10%). O corte de salários da Função Pública é a grande reforma estrutural. A partir do momento em que os lugares na Função Pública deixam de ser os mais bem pagos, tudo se simplifica. Os institutos extinguem-se por si. As escolhas tornam-se óbvias. As resistências à mudança desaparecem. Pensem nisto: se a RTP for privatizada os funcionários passam a receber 13º e 14º mês. Revolucionário. O problema vai colocar-se ao contrário: como captar quadros para a Função Pública? Como suprir os serviços essenciais do Estado de gente competente? Que serviços essenciais o Estado deve prestar? A escassez de quadros e de recursos tornará a resposta a estas perguntas tão óbvia que não haverá sequer discussão.

 

            Disse, mas ainda não disse tudo. O que ele não disse foi que através desta medida o governo pretende:

            1º Criar uma marxista “exército industrial de reserva”, isto é, transformar a classe média que depende da função pública e é competente num exército de desesperados que aceita vender a suas capacidades a qualquer preço ao setor privado.

            2º Promover uma colossal transferência de riqueza para os mais poderosos na execução da estratégia que já apelidei neste blog de A CONSPIRAÇÃO DOS ESCROQUES.

            3º Desistir definitivamente da qualificação dos nossos TRABALHADORES e PATRÕES e na investigação científica e tecnológica como motores do nosso desenvolvimento.

            Que assim é, e que esta medida não é ditada por um imperativo de pagamento imediato da dívida e de redução do défice do Estado provam-no vários factos:

a)     O Banco de Portugal poderia vender parte das reservas de ouro que detém no valor de cerca de 15 mil milhões de euros e entregar os dividendos ao governo para acudir ao pagamento da dívida a um prazo inferior a três anos.

b)     O governo poderia criminalizar com penas draconianas a transferência de dinheiro para paraísos fiscais publicando em simultâneo uma amnistia para os que fizessem regressar ao país o dinheiro colocado em paraísos fiscais e off-shores.

c)      O governo poderia criminalizar a sub e a sobrefaturação, uma das causas da falta de liquidez dos nosso bancos e da impossibilidade de financiarem a economia.

d)     O governo continua a gastar milhões em negociatas com os privados, como o prova o facto de a rubrica orçamental de AQUISIÇÃO DE BENS E SERVIÇOS, através da qual se fazem essas negociatas, ter aumentado 42,7% em Julho, e 33,7 % em Agosto.

e)     E, até, em medidas menores, mas exemplares, como a do honesto ministro da educação que aumentou de 80 para 85 mil euros por turma o financiamento dos colégios privados com contrato de associação onde estudam os meninos mais ou menos ricos.

Perante isto, o que diz o PS?

Generalidades inúteis ou, como aconteceu nesta sexta num debate entre o incontornável ÂNGELO CORREIA o genial FRANCISCO ASSIS, este falou das eleições no PS francês como acontecimento mais importante da semana.

POBRE POVO!



publicado por henrique doria às 09:13
link do post | comentar | favorito

Domingo, 9 de Outubro de 2011
APÓS UMA LEITURA DE SAMPAIO BRUNO

 

 

                Aventurar-se na leitura de OS CAVALEIROS DO AMOR OU A RELIGIÃO DA RAZÃO, de Sampaio Bruno, é aceitar embrenhar-se nos caminhos difíceis da contradição. E a contradição começa logo no título da obra. Cavaleiros é uma palavra que nos remete para a guerra, isto é, para o contrário do amor. E religião é exactamente o contrário da razão, é a crença naquilo que a razão não consegue explicar. Nunca poderá haver religião da razão, pese embora a desrazão dos revolucionários franceses que quiseram instituir uma religião da razão.

                Mas a contradição prossegue: o livro não é um livro, mas apenas o plano dum livro por fazer.Não um caminho, mas um mapa dum caminho a caminhar.

                Finalmente, o conteúdo do mapa é também uma contradição. Começa por traçar uma tradição imperial, para depois se dirigir para a revolução subterrânea. Mostra-nos, por fim, os caminhos dos santos e dos heréticos que terminam em pranchas de academias, juntas e lojas.

                Como decifrar o mapa destes caminhos que, a cada passo parecem desembocar em lugares sem saída?

                Sampaio Bruno dá-nos a chave desse mapa no lugar onde nos fala do Cavaleiro da Ordem de Cristo, do Fiel do Amor que foi Manuel de Faria e Sousa, o primeiro biógrafo e intérprete de Camões, ao decifrar a seguinte parte da Ode III do grande poeta:

          

           A ser como soía,

Pudera levantar vossos louvores;

           Vós, minha Hierarquia,

           Ouvireis meus amores,

Que exemplo são ao mundo já de dores.

 

“ Manuel de Faria e Sousa dir-nos-á ele quem, de verdade, era esta Hierarquia, quando, na “Palestra II”, da “Primera noche” de suas noches claras, nos define o “ Que es noche, y la conveniência que tiene com el estúdio. Para las Academias, y nueva Cavalleria.”

                As Academias são as Lojas. E a nova Cavalaria, cá os temos, seus cavaleiros. São os Cavaleiros do Amor; são os Cavaleiros do Espírito. Isto é, são os que professam a Religião da Razão. E, de longuíssima data preparando-a, se encaminham para a Revolução.”

               

 ( continua )              

 



publicado por henrique doria às 10:12
link do post | comentar | favorito

Domingo, 2 de Outubro de 2011
OUTRO PENSA-ME, LOGO, EXISTO

                                          

 

Em vez do "penso, logo, existo" de Descartes, prefiro: outro pensa-me,logo, existo. Ou, dizendo o mesmo de outro modo: outro ama-me, logo, existo.

 

HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos



publicado por henrique doria às 09:09
link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

SOMOS UMA SEMENTE DO NADA

 

 

Joan Miró -hombre y mujer delante de un montón de excrementos

 

Somos uma semente do nada na infinita sementeira do Cristo Redentor. Por isso, como perceber que por uma insignificante semente teve Ele de travar uma batalha com o demónio e morrer na cruz como um deus qualquer.

 

HENRIQUE DÓRIA-Fragmentos



publicado por henrique doria às 09:02
link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
Junho 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


posts recentes

FRAGMENTO

VÊS-TE ELEITO ENTRE AS ES...

FRAGMENTO

VASOS

FRAGMENTO

O FUTURO DEVOROU O PASSAD...

FALO DAS COISAS SÉRIAS DA...

FRAGMENTO CONTRA CIORAN

UMA ESTRELA NA BOCA

FRAGMENTO

arquivos

Junho 2019

Março 2019

Fevereiro 2019

Dezembro 2018

Novembro 2018

Outubro 2018

Setembro 2018

Agosto 2018

Julho 2018

Maio 2018

Fevereiro 2018

Dezembro 2017

Outubro 2017

Agosto 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Fevereiro 2016

Janeiro 2016

Dezembro 2015

Outubro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Junho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Junho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Abril 2013

Março 2013

Dezembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

blogs SAPO
subscrever feeds