TRIBUNO DA PLEBE
sorrindo perante o sangue escorrer pelas paredes e os seus corpos despedaçados sobre a terra.
Sou já demasiado velho para ter ilusões sobre a mudança de carácter de Coriolano. Fez ajoelhar o soberbo Tarquinio não porque amava a liberdade, como dizia, mas porque Tarquinio se apoiava nos mercadores e nos artesãos para, com o apoio deles, conter o poder e a arrogância dos patrícios, senhores das terras. Para o povo Coriolano comporta-se como uma vibora que se disfarça no silêncio, mas, por isso mesmo, é mais perigosa. Para ele, todos os devedores que não pudessem pagar as suas dívidas, depois de lhe terem sido retirados os bois, as cabras e os jumentos, deveriam ser reduzidos à escravidão. E não só eles, mas também os seus filhos, ainda que crianças fossem. Para ele, os que semeiam, mondam e colhem o trigo que cresce nas terras dos patrícios só têm direito a comer o pão bolorento. E para os que não aceitarem esse destino, reserva-lhes Coriolano a forca e o corpo lançada aos abutres, ou a fogueira e corpo reduzido a pó fino e lançado aos ventos.
Era ele ainda criança e eu jovem, e comprazia-se ele em apanhar borboletas, e depois larga-las, para as voltar a apanhar vezes repetidas e, por fim, arrancar as asas e despedaçar os seus corpitos com crueldade feliz. Mais tarde, agarrava os gatos, segurava-os pelo rabo, rodopiava-os com velocidade louca para os lançar com violência contra as casas, sorrindo perante o sangue escorrer pelas paredes e os seus corpos despedaçados sobre a terra.
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"Com a virtude, como se passa o tempo?" Perguntava Soljenitsyne.
Pergunta de desesperado a que só se pode responder suavizando o desespero: lutando por mais virtude . Só assim encontraremos alguma paz no desespero do tempo.