Eu era esse nascido da raiva
Escondida no centro da terra
Feito de lume e lama inocentes
Entre o solene silêncio
Do Céu e do Inferno.
Esse era eu mas
Já nem reconhecia
O sol que ceifara o trigo
Da roda
Da vida.
Esse era eu mas
Os imensos dedos do silêncio
De que brotavam línguas
De fogo e mirra
Tapavam-me os lábios.
Eu era esse feno bêbado
Em que se deitava a cabeça da noite.
Eu era esse entre candeias
De gratidão e bondade
Uma foice negra cortando-lhe
O girassol
Do cérebro.
Esse era eu mas
O turbilhão azul
Angustiava-me ainda mais que as águas
E as catedrais:
Por ele eu perdera a minha orelha esquerda.
Eu era esse que só
Se submetia às marés
Do amor
E teria de morrer no regaço
Da mãe de infinitas cores.
Eram grandes e desesperados os verões de areia dos meus quinze anos, quando o desejo tinha a imensidão e o sabor do mar, e o amor era uma sarça ardente sobre as dunas de sede nunca saciada.
Então o sol crescia dentro do meu corpo, até o meio dia ser a meia noite, e a meia noite uma explosão solar.