Somos apenas água dentro
Da ânfora.
É da ânfora a nossa forma
A nossa luz e a nossa sombra.
Estamos para ser bebidos
Ser o alimento das rosas
O bico da rola
Que abre a música dentro do cristal.
Somos para ser despejados na rua
Ou, tão só, nos perdermos dentro dos tubos escuros
Misturados com urina e fezes.
Somos a saliva do cão.
E, no entanto, a água que somos
Torna brancas as escadas de mármore
E tantas vezes arde
-Que alcança o incêndio.
HENRIQUE DÓRIA