A improbabilidade e o erro
Fizeram o homem que eu sou.
Estes olhos fronteiras
Entre a coragem e o medo
Guiam o meu corpo incerto
Incapaz de se conter dentro
De uma só pele.
Decepar as mãos que querem
Tocar o mundo
Suspendê-las em fios de bronze
Numa oliveira dissecada
Poderia ser o modo de cortar
Os sonhos
E o desejo.
Mas o acaso fez o meu sangue
A partir da argila e do fogo
Que criaram em mim a terra
Do desejo
E o céu
Do sonho
Que não podem ser cortados
A não ser que a derradeira neve
Os torne
Em sangue coalhado
HENRIQUE DÓRIA