blog filosófico, cultural e político
Domingo, 4 de Julho de 2004
PERMANECENDO AQUÉM
Continuará a faltar-nos o golpe de asa para não permanecermos sempre aquém, porque acreditamos ainda que tudo se pode salvar só num golpe de asa.
E o nosso destino vagueará entre aceitarmos a perda, ou um suicídio em Ceide e outro em Paris, ou, modernamente, o exílio, como sucedeu a Rodrigues Miguéis, de que recentemente vimos O MILAGRE SEGUNDO SALOMÉ.
Estranho este povo com a identidade mais forte da Europa, mas a viver em permanente crise de identidade. Este povo que, numa ânsia desmesurada de grandeza prefere os "salvadores" da pátria como D. Sebastião, Pombal ( que também se chamava Sebastião) ou Salazar, em vez do trabalho sério e honesto como o de Mouzinho da Silveira, Passos Manuel ou Sousa Franco.
Às vezes chega-se a pensar que os próprios descobrimentos foram uma manifestação do nosso sebastianismo, a busca de mais pátria porque a que tínhamos estava irremediavelmente limitada por Castela e pelo mar.
Uma pátria que fosse um Império.
Para a maior parte de nós, o império seria um El Dorado. Poucos como António Vieira viam nesse Império o Império da sabedoria e do bem, que só se consegue com o trabalho persistente, sério e honesto.
Perdermos o Euro 2004. Não será isso grande mal..
O grande mal é outro, e está agora a ameaçar-nos: o país está em riscos de cair nas mão de um novo e medíocre demagogo, em riscos de se transformar numa nova ilha da Madeira-mas sem ter o tão mal tratado Continente a cobrir-lhe o défice desmesurado.
Ou, então, num grande Gondomar, fazendo negócios, enriquecendo alguns, organizando passeios e festas, distribuindo discos, camisolas e bonés para entreter a maioria- mas sem um secretário de estado na Europa que dê um jeitinho numa lei feita só para nós, a permitir um endividamento que a outros não é permitido.
Vimos no Portugal-Grécia um Primeiro-Ministro contente e satisfeito porque já se foi embora deste país para muito melhor. E um Presidente da República tenso e triste porque lúcido das dificuldades que enfrentamos e das suas responsabilidades para as ultrapassar.
Esperamos que este Presidente da República tenha a coragem de não entregar o país nas mãos dos demagogos, cuja a aversão ao trabalho sério e honesto é por demais conhecida.