Humano, muito humano aquele Tintoretto. Sem se precupar em ser muito grande, como Miguel Ângelo. Sem se preocupar em ser muito perfeito, como o rival Ticiano.Preocupado apenas em nos transmitir o drama da existência do homem.A sua grandeza e a sua miséria.
Se quiséssemos encontrar uma palavra para classificar as personagens de Tintoretto, essa palavra seria, certamente, HUMILDADE. A sua Última Ceia (a que se encontra na Igreja de S. Trovaso, em Veneza) é a mais tocante que foi alguma vez pintada por qualquer pintor. Cristo e os apóstolos não estão colocados em pose, como nas pinturas de Leonardo ou Ticiano. Mas são captadas fotograficamente, num instante dramático em que Jesus dá a
conhecer quem o traiu.São humildes os rostos e as vestimentas de Cristo e dos apóstolos, são humildes a mesa, as cadeiras,a toalha e os alimentos. Ao fundo, a porta que conduz ao céu, um céu irmanado com a terra. A cena está a ser olhada por duas mulheres e uma criança, próximas da porta do paraíso. À esquerda dos apóstolos humildes e cansados, um pequeno príncipe mostra-se disposto a servi-los.No chão, também do lado esquerdo, um apóstolo coloca a mão sobre a terrina preciosa cujo conteúdo é ambicionado por um gato, mostrando-nos como é irracional a ostentação.
Tintoretto, mais do que para ser admirado, é um pintor para ser amado.